domingo, 25 de fevereiro de 2018

Tocaia - Violeiro Mineiro Capiau

Hades
La Barca de Caront - Josep Beniliuri Gil - Museu de Bella Arte de València



TOCAIA

Vigia-me o Caronte, em transversal soslaio
De uma moita espessa de melenta Bobenta
Mira a carabina em meu, vazio, balaio
Disposto sobre o lombo dessa vida jumenta

As rédeas se arrebentaram, e segue a mula vida
Desprovida de sua rota e tosca indumentária
No lombo as pisaduras de antigas feridas
Adquiridas durante essas lidas, agrárias

Minha bruaca e canastra, também jazem vazia
Trote trôpego faz, hoje, a minha xucra alimária
Sobre a lápide de lage escura e a argila fria

Que já reservada, pra minha tumba mortuária
Escorpiões já reclamam a minha companhia
Minhocas me esperam, sob a raiz da Brachiária

VIOLEIRO MINEIRO CAPIAU
EM 15/02/2016... rinchando...


 
Hermes Guia das Almas - Agolf Hiremy-Hirschi - 1898

Caronte é o barqueiro que leva as almas das pessoas mortas para o Hades, atravessando o rio Aqueronte, um rio de águas turbulentas que delimitava o inferno. Ele é um velho muito magro, porem muito forte e só atravessava os mortos que fossem devidamente sepultados e cobrava por este serviço, dai vem o costume de sepultar os mortos com duas moedas sobre os olhos. Caso a alma de alguém que não tivesse tido acesso a um velório correto tentasse passar o Caronte o impediria, e este deveria vagar por cem anos, para cima e para baixo a margem do rio, até que pudesse enfim atravessar.
Nenhum vivo poderia atravessar pelo barco de Caronte, a não ser que carregasse um ramo de acácia, arvore consagrada a Persefone, deusa raptada por Hades para ser sua esposa. Além dele, só Morpheus, Hecate, Hermes e Thanatos tinham livre acesso ao mundo subterrâneo e só alguns poucos mortais se arriscaram a atravessar como Hercules, Enéias e Orpheu.
Caronte era muitas vezes retratado com uma máscara de bronze na qual ocultava sua verdadeira face macabra que faria os recém-mortos repensarem em entrar na barca.
Filho de Erebus [deus da Escuridão] e Nix [deusa da Noite], Caronte recebeu esta tarefa após tentar roubar a Caixa de Pandora, no que foi surpreendido por Zeus. No início fazia a travessia junto a seu irmão gêmeo Corante.
Corante notou que as gorjetas ficavam cada vez mais escassas, e quando haviam, eram valores muito menores que de costume. Começou a duvidar do irmão. Um dia descobriu que Caronte estava lhe roubando. Pegava a gorjeta antes que ele visse e desviava parte do faturamento para si. Brigaram por 13 meses [de 28 dias cada] e um dia.
Os mortos perambulavam livremente pela terra durante este período, pois não havia quem os conduzisse para o Outro Mundo. No 365º dia, Caronte matou seu irmão, afogando-o no rio. O corpo de Corante se dissolveu e tingiu o rio de vermelho.


7 comentários:

  1. Excelente momento poético, mensagens nas entrelinhas dos versos, muito peculiar nos poemas de Violeiro Mineiro Capiau, um texto profundo que ficou mais suave, pela pesquisa e imagens de Jorge. Tudo lindo e expressivo. Parabéns a ambos!

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  2. Uma página muito expressiva, uma temática profunda, mas muito inteligente, que com as imagens e informaçóes do poeta Jorge. Tornou o tema bem suave. Parabéns a ambos!

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    1. Obrigado, gentil amigo! Realmente o Poeta mestre Jorge sabe colocar bem os temas e esclarecer os pontos!

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  3. Gostei de tudo... inteligente e expressivo é o poema do amigo Violeiro. E com o toque sábio do poeta Jorge, com suas imagens qu falam, a página ficou show! Parabéns a ambos!

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  4. Mais uma vez, obrigado, ao mestre Jorge, pela oportunidade de divulgação de mais um poeminha de capiau... abçs!

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