Estação
de Trem
Estação de trem,
Uns partem, outros veem.
Mas quem?
Corpos esquartejados,
Suados, malcheirosos,
Um pouco de perfume francês
Comprado nas calçadas e
Galerias da Prestes Maia.
Alguns olham para o céu,
Outros olham para o chão.
As pálpebras cansadas tentam fechar.
Os olhos embaçados querem chorar.
Lágrimas não têm
Na estação de trem,
Uns partem outros veem.
Corpos feios, moídos, perdidos.
Sonham com um colchão,
Um caixote, um caixão.
Sonham com um amor que não vem.
Sonham com a alegria,
E só tristeza eles têm.
A moça bonita, tão feia...
Seus cabelos grudados
Não valem um vintém.
Seu corpo suado só feridas contem.
Feridas que sangram,
Que queimam, que marcam,
Que lembram que um dia
Pensou que seria
Uma esposa somente,
Contente em seu lar.
E um amante impotente,
Nem isso terá.
O menino pivete
Esperando dar o bote,
Que sorte, ninguém percebeu.
Seus olhos brilharam,
Seu corpo dançou,
Quando a mão traiçoeira
Uma corrente levou.
A menina criança,
Com seu dente de leite,
Entrega seu corpo,
Sua alma, sua fé,
Ao deleite de homens,
Em troca do nada,
Do pão que o diabo,
Um dia amassou.
O velho encurvado,
Sentado, coitado,
Espera também.
Sua boca sem dente,
Espera contente,
Espera à sorte,
No vagão do trem.
E lá na estação,
Na estação de trem,
É a vida que parte,
É a morte que vem.
Jorge Leite
Todas as fotos são da Estação da Luz, em São Paulo.
Todas as fotos são do Google.
Espetacular! Há tempo não via uma crônica em versos tão primorosa... Lembrou-me Fernando Sabino!
ResponderExcluirObrigado amigo,meu corpo flutua até agora de tanta felicidade por seu elogio. Não mereço tanto, mas agradeço. Um abraço.
ExcluirSensacional momemto poético, versos de elite que foram tecidos com maestria. Sentimentos extraídos no real, histórias do vai e vem da vida. Show de imagens. Deslumbrada aqui com muita poesia dentro da poesia. Parabéns pelo conjunto. Aplausos mil!
ResponderExcluirComo Disse Cecília Meireles em seu poema "Motivo": "Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta." Somos cantores Betinha, e cantamos a vida. Beijos.
ExcluirMaravilhosa poesia! Versos primorosos, em um poema que transmite sentmentos, verdades diárias...chegadas e partidas, contrastes dos momentos. Parabéns poeta Jorge! Mais um poetizar para nosso deleite.
ResponderExcluirObrigado Paulo, também gosto dessa poesia, adoro observar a vida em volta e ela é cheia de contrastes. Um abraço.
ExcluirBelíssimo poema em todos os detalhes, versos recheados de sentimentos, verdades contidas nas mensagens, o dia a dia das pessoas passantes. Parabéns! Imagens fabulosas. Poeta Jorge, tu és bom no que faz. Bravo!
ResponderExcluirAmigo Maciel,adoro andar de ônibus, somente para observar as pessoas passantes. É como ler um livro sobre comportamento, sobre o dia a dia das pessoas. Obrigado pelo elogio. Um abraço.
ExcluirGostei demais da leitura. Um poema muito lindo e realista, estou encantada com as imagens e a maneira como foi desenvolvido a temática. Parabéns, um blog com muito conteúdo. Abraços!
ResponderExcluirQuerida Geovanna, normalmente as imagens complementam as poesias ou os textos; dessa vez fiz o inverso, o tema principal são as imagens, depois complementei com a poesia. O resultado final também gostei. Poesia e imagens interagem entre si. Obrigado, Um grande e afetuoso abraço,
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