ELISABETE LEITE
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(Desenho de Percy Lau) |
RETIRANTES
A seca castigava àquele pequeno vilarejo, localizado em uma cidadezinha do
sertão de Pernambuco. Lá a cultura do milho tinha grande importância para os
moradores, pois era o único meio de sobrevivência...
Os habitantes daquele lugar já não sabiam como minimizar os prejuízos
provocados pela seca. Com a falta de chuva, plantações de milho precisam de
irrigação para crescer e, o investimento é muito alto... Senhor Joaquim dono de
um pequeno sítio denominado, Porteira Quebrada, estava desesperado, pois tinha
perdido toda safra de milho, do ano anterior. Nesta época do ano, os milharais
deveriam estar ocupando o terreno da propriedade. Mas, a palma e o mato tomam
conta do sítio do agricultor, já que o mesmo não plantou por causa da falta de
chuva e de investidores. A ação do agricultor era pertinente, tendo em vista que,
já aproximadamente três meses não chovia no sertão, um pingo d’água sequer. O
pequeno lago artificial próximo ao sítio já estava totalmente vazio. Mais uma
preocupação para ele; como mataria a sede dos poucos animais que sobreviveram à
estiagem do ano passado. No pequeno sitio tinha uma vaca magra e sofrida, mas
muito boa leiteira, e duas galinhas com alguns pintinhos. Atualmente, era com a
venda do leite que alimentava sua família.
O sol, ainda, não havia resplandecido no horizonte, mas o senhor Joaquim
já estava sentado em frente ao terraço, pensando em soluções para o problema da
seca. Sua esposa, dona Olívia, aproximou-se devagar e foi logo falando:
- Marido, você não vai tomar seu café?

Quase chorando, ele continuou falando:
- Você sabe que arrendei este sítio, quando foi preciso construir esse
lago artificial, que hoje está quase vazio.
A mulher não conteve o choro, tinha um olhar de tristeza, seus olhos
emaranhados pelas lágrimas que escorriam sem controle. Ela olhou fixamente para
o marido e disse-lhe:
- Vamos tomar nosso café, tem um pouco de leite e cuscuz quente em cima
da mesa. Alimentados pensaremos o que fazer.
O casal tinha um único filho, com dois anos de idade, o pequeno Gabriel,
que até parecia um anjinho. O garotinho tinha cabelos encaracolados e um
rostinho terno. Os três sentaram-se ao redor da mesa; a mulher foi puxando
conversa:
- Vamos para São Paulo, marido,
em busca de um sonho promissor, lá tem futuro para nosso filhinho, meus
parentes podem ajudar no que for preciso, pois aqui já não tem futuro para a
gente.
- Mulher, deixe de besteira, não vamos sair da nossa terrinha, por nada.
Aqui temos um pedaço de chão e este casebre. O agricultor falou já soluçando.
E dona Olívia respondeu-lhe com precisão:
- Para que serve, um sítio arrendado, uma plantação de milho que não
existe e meia dúzia de animais quase mortos, por falta de chuva. A seca está
destruindo nosso lugar.
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Candido Portinari |
- Mulher, tomei uma decisão, vou entregar o sítio ao banco, vender os
animais e viajaremos, em retirada, para São Paulo, iremos para casa dos nossos
parentes.
A mulher envolveu-o em um forte abraço e, choraram juntos.
Os preparativos para a longa viagem foram finalizados... Em uma certa
manhã de sol escaldante, os três aguardavam na velha rodoviária, o horário da
partida do ônibus, ao destino desejado. O casal estava confiante; eles acreditavam
que na cidade grande, São Paulo, fosse um lugar mais promissor.
Os tempos passaram... E já em São Paulo, o Sr. Joaquim arrumou emprego
de serviços gerais em um condomínio fechado, dona Olívia trabalhava de
costureira em uma grande indústria têxtil, Gabriel estudava o curso técnico em edificações
e já estagiava. Eles moravam em uma casa modesta, bem acolhedora, próximo ao
trabalho do Sr. Joaquim. Nunca mais eles voltaram ao Sertão, o sítio fazia
parte de um passado... Uma história sofrida, mas a perseverança e a coragem
deles, contribuíram para este final feliz.
Foram muitos os tropeços, mas nem por isso o casal desistiu de um sonho
promissor. São tantas histórias assim...
E você vai desistir de seu sonho?
Elisabete Leite – 04/05/2018
NOTAS DE RODAPÉ
Retirante é o termo que se refere à pessoa ou grupo que abandona
a sua terra por causa da seca e da miséria
em busca de uma localidade que lhe dê melhores condições de vida. Foi
amplamente usado no Brasil para se referir a nordestinos que migravam
para as grandes cidades do Sul–Sudeste brasileiro,
fugindo das secas. Pejorativamente, o retirante é denominado «pau de arara».
A
condição de retirante é uma das três categorias importantes que, na literatura
do Ciclo de Secas, do sertão brasileiro, ou mais
especificamente, da seca, impõe-se à população do Nordeste brasileiro. As
outras duas posições são a do cangaceiro e a do beato,
como descrito no Pequeno dicionário de
literatura brasileira:
A seca, porém,
impõe três posições importantes: o homem se lança ao crime e se torna
cangaceiro; emigra pacificamente e é chamado retirante; ou então procura, em
práticas supersticiosas, aplacar a fúria de Deus e se transforma em beato —
sai pregando ou seguindo um pregador rústico, a fazer sacrifícios,
autoflagelando-se e acaba matando ou roubando em nome de Deus.
—Pequeno dicionário de literatura
brasileira
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Os
retirantes provêm de classes sociais menos favorecidas e procediam
principalmente do interior do Nordeste, região do polígono das secas.
Candido Portinari – a alma, o povo e a vida
brasileira
Autorretrato, de Portinari - 1956. Acervo digital ©Projeto
Portinari
Coleção particular, Rio de Janeiro, RJ.
Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as
matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu autorretrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo.”
- Candido Portinari
"O alvo da minha pintura é o
sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém, um meio
indispensável."
- Candido Portinari
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Candido Portinari nasceu em 29 de dezembro de 1903, numa fazenda de café perto do
pequeno povoado de Brodowski, no estado de São Paulo. Filho de imigrantes
italianos, de origem humilde, tem uma infância pobre. Recebe apenas a
instrução primária. Desde criança manifesta sua vocação
artística. Começa um Pintar aos 9 anos. E – Do cafezal às Nações
Unidas – ele se torna um dos maiores pintores do seu tempo. Faleceu em 6 de
janeiro de 1962, na cidade do Rio de Janeiro.
Parabéns Elisabete Leite, lindo e emocionante conto, prende a gente do início ao fim, e um belo fim, mesmo que não seja o fim de todos emigrantes.Acho que a paginação está próxima do ideal, com quase todos os espaços preenchidos, com menos fotos e mais conteúdo escrito, apesar de que as fotos também fazem parte do conteúdo, elas não estão soltas. Elas interagem e complementam os textos.
ResponderExcluirNos últimos dias o Blog esta um pouco instável, é que estou procurando uma melhor leitura no sistema Androide (47% das visitas, contra 48% no Windows). Peço desculpas pelo inconveniente da instabilidade mas a intenção é melhorar a apresentação e principalmente a leitura. Elisabete Leite tinha solicitado melhora na leitura no celular, e aprovou o modelo atual.
Agradeço a Elisabete por ceder o espaço para essas explicações; e mais uma vez parabéns pelo belíssimo conto.
Sensacional ficou a atual página do blog, tanto em conteúdo quanto em imagens ilustrativas. Os pessonagens ganham vida com as fotos e, a Nota de Rodapé explica com clareza o significado de algumas palavras chaves, contidas no enredo do conto, para um melhor entendimento da temática, proporcionando, assim, ao leitor clareza nos fatos abordados. É notável a iniciativa do poeta Jorge Leite introduzindo a Nota de Rodapé nas páginas. Ricas citaçoes. Muito emocionada, feliz e agradecida. Obrigada Jorge por todo empenho. Show! Vale chorar? Sim, de felicidade... Beijos
ResponderExcluirUm Conto belíssimo, comovente e com um final feliz. Jamais desisto dos meus sonhos querida poetisa Elisabete Leite. Geovanna já havia me falado deste conto, um mensagem surpreendente. As imagens escolhidas pelo Poeta Jorge Leite são de muito bom gosto. A iniciativa de introduzir nas páginas Notas de Rodapé com a finalidade de esclarecer e explicar diferentes conteúdos; louvável e pertinente ação. Parabéns pelo conjunto. Aplausos Bete pelo admirável conto é mensagem. São muitas histórias assim, que ainda fazem parte do cotidiano no sertão. Tudo lindo! Abraços
ResponderExcluirBeta querida,parabéns,amei seu emocionante conto,é a história
ResponderExcluirDe alguns sertanejos,calejados
Sofridos e descrentes,sertanejos
Simples e honestos,a espera de
Uma gota de chuva,que caia devagar
Trazendo só alegria. Parabéns você
E meu querido Dr.Jorge,são sensacionais.
Que lindo comentário Lucinha, feliz e emocionada pelo seu carinho ao comentar. Beijos
ExcluirQuerida Lucinha, você precisa voltar mais vezes e deixar suas mensagens sempre lindas e coerentes. "Foi Deus Quem Fez Você" é a música que estou ouvindo nesse momento especial, e tem que ser com Amelinha. Beijos e volte sempre.
ExcluirAh!meu amado irmão,sinto demais sua ausência em minha vida, em dias felizes escuntando belas músicas e revivendo ou melhor recordando momentos que passaram ininesquecíveis e vivenciando o presente momento,regado com um bom vinho e uma geladinha,é sinto muita falta!😘😘❤
ExcluirPois é poeta Maciel, eis ai o conto que te falei da nossa amiga poetisa Elisabete Leite. Maravilhoso conto e mensagem, com um final surpreendente. Encantada aqui com as imagens ilustrativas com a Nota de Rodapé e com o novo visual do blog; sempre aprendendo neste espaço. Parabéns pelo conjunto e abraços.
ResponderExcluirEsse conto da nossa querida Betinha retrata bem o sofrimento do sertanejo e seu sonho por uma vida melhor. É uma história envolvente de uma família humilde, sofrida, dos sertões nordestinos. A beleza da mensagem está na perseverança e a determinação dessa família em se aventurar numa cidade grande, nessa busca de uma vida promissora. Felizmente pra seu Joaquim e família tudo acabou bem. Adorei sua história, amiga e grande poetisa. Um grande abraço
ResponderExcluirBelíssimo Conto, uma mensagem de coragem, força de vontade, dos Retirantes em busca de um sonho promissor. Jamais deixo de sonhar, ao contrário, busco realizar os meus sonhos. Tantos partiram e ainda partem em busca de um futuro promissor. O diferencial deste conto é este mensagem de positivismo que a poetisa passa. Parabéns Elisabete Leite pela criatividade. As imagens ilustrativas ficaram fabulosas. Gostei das Notas de Rodapé! Bravo
ResponderExcluirOlá pessoal, me desculpe a ausência ando um pouco afastada, estou estudando muito. Tempo agradável aqui em Santiago do Chile. Passando rápido para prestigiar e parabenizar pelo seu belíssimo conto, minha grande amiga Elisabete Leite. Um conto que retrata os sofredores da seca, a falta ďágua que castiga o sertão nordestino, os prejuízos e os retirantes em busca de um sonho promissor. Amei o tema, o novo visual blog, as inovações nas páginas, com as informações precisas nas Notas de Rodapé. Parabéns a todos. Saudades e forte abraço.
ResponderExcluirÉ sempre maravilhoso deleitar-me com os belíssimos contos da amiga querida Elisabete Leite; este não é diferente. É extraordinário, a narrativa é envolvente, escrita em uma linguagem apropriada para dadas as idades e níveis de escolaridade. Perfeito! Amei o novo visual do blog. A iniciativa nas Notas de Rodapé e diferentes temáticas. Parabéns e boa semana a todos!
ResponderExcluirDigo: em uma linguagem apropriada a todas as idades. Abraços
ExcluirGostaria de agradecer a todos que de maneira carinhosa deixaram aqui registrados seus gentis comentários. Em especial ao meu irmão Jorge, pelo seu empenho. Beijos no coração de cada um de vocês. Excelente semana!
ResponderExcluirAchei maravilhoso o conto, que retrata uma vida sofrida dos sertanejos no período de estiagem, obrigando-os a deixarem tudo e se aventurarem na cidade grande, esperando assim um futuro promissor. Sorte desta família que teve um final feliz; nem sempre é assim. Parabéns a amiga Elisabete Leite. Gostei do novo visual do blog e das Notas informativas de Rodapé. Parabéns ao conjunto. Abraços
ResponderExcluirParabéns, Betinha. Gostei muito do conto, principalmente pela mensagem positiva de esperança e realização que você transmitiu.
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