sábado, 19 de maio de 2018

UM CANTO À MINHA CIDADE



Socorro Paiva



REMINISCÊNCIA OU UM CANTO À MINHA CIDADE

Da tua história nada sei de glórias
para louvar-te como deveria.
Portanto, não canto atos efêmeros de pessoas,
saúdo a terra que tanto queria.
Adulta sou, mas muito trago ainda da infância em ti vivida.
A caminhar por tuas ruas sem fronteiras e sem temores.

Canto teu fausto rio, velho "Chico",
das minhas viagens de menina.
As lendas bem contadas por altivas senhoras
de nomes Zefa e Sabina.
Cheias de:” nego d'água’, “sacis” e "padre Veremundo"
Personagens dos meus sonhos-pesadelos.

Canto a igreja com leite de baleia edificada,
único prédio que a enchente não destruiu.

O cemitério, onde estavam enterradas botijas e tesouros,
por temor a Lampião - “ Rei do Cangaço”.
Fantasia das crianças que enfrentando os fantasmas
Lá faziam excursões.

- Hoje tem espetáculo? - tem sim senhor!
Era o circo que chegava encantando o sertão.:
Trapezistas, anões e atores a representar
"Marcelino Pão e Vinho" e "A Canção de Bernadete".
Alegria dos alunos do grupo escolar,
que seus fardamentos cediam para o ingresso barganhar.

Canto os banhos de chuva nas quinas dos telhados.
Grandes caçadas na serra e os passeios de canoa.
Brincadeiras da berlinda, bandeirinha e passa o anel.
Cantigas de “passarás”, pobre de “marré deci”
Datas festivas em que ousávamos recitar
poemas de Castro Alves no "Cine Guarani",

Mês de maio na igreja, uma festa a cada dia.
Fui anjo de asas no altar, pastora na procissão.
Vendi laços de fitilho, fiz primeira comunhão
Fui da cruzada infantil, depois, filha de Maria.
Escrevendo bilhetinhos aos domingos na quermesse,
vivi o primeiro amor sem que o menino soubesse.

Salve o cordão encarnado! É um viva aos pastoris,
que em dezembro tinham início até a festa de reis.
Fui Diana e Borboleta, mas só pelo azul torci.
Canto teu carnaval dos “caretas”, de chicote,
os bailes lá nos palanques com lança-perfume a jorrar,
ao som de “tomara que chova” e de “mamãe eu quero mamar”.
 
Muito tempo se passou e uma só vez te visitei.
Muitos que amei já partiram.
Em ti o progresso chegou, não mais te reconhecerei.
Da minha história nada sabes de glórias
Para louvar-me como mereço,
No entanto, Cabrobó, nunca te esqueço.


          Socorro Paiva/2002

Estou mandando uma das que mais gosto, feito em homenagem a Cabrobó.
Vou contar a história dessa poesia:
Quando sai de Cabrobó era criança, voltei depois de 20 anos bem rápido, apenas de passagem e encontrei apenas uma pessoa do meu tempo, que falou rapidamente sobre quem tinha morrido.
Mais de 10 anos depois, fizeram uma festa para homenagear os conterrâneos formados em Direito e se esqueceram de mim.
Então fiz esta poesia, muito magoada. Quando souberam disso, fizeram uma festa e duas garotas declamaram meu poema em um jogral. Chorei de emoção.


NOTAS DE RODAPÉ

Bem atual....
"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo,
torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente,
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor.
Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda."
Paulo Freire.

Paulo Reglus Neves Freire ( 19 de setembro de 1921, Recife/PE -2 de maio de 1997,São Paulo/SP )foi um educador, pedagogo e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica
 






15 comentários:

  1. Belíssimas reminiscências, que hoje estão eternizadas na memória; versos emocionantes e encantadores da minha querida prima poetisa Socorro Paiva. Uma história envolvente marca este momento de arte poética. Encantada e sensibilizada com as fotos históricas da poetisa e na homenageada, menina poesia Cabrobó... Este lindíssimo município brasileiro do estado de Pernambuco, localizado no sertão do São Francisco. Tudo perfeito! Gostei bastante da educativa Nota de Rodapé. Parabéns e aplausos mil!

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    1. Muito obrigada mesmo! fico feliz que tenha gostado.

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  2. Que deslumbre de poesia! As lembranças sentidas do Município de Cabrobó, terra querida. Versos belíssimos tecidos em uma singela homenagem, desta poetisa amiga Socorro Paiva. As fotos complementam o cenário. Chique: os habitantes se chamam cabroboenses. Tudo lindo! Gostei da Nota de Rodapé. Parabéns!!!

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    1. Agradecida pelas palavras carinhosas.

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  3. Uma maravilha de poema que homenagea o belo Município de Cabrobó. Ele está situado na RIDE polo Petrolina e Juazeiro. Muita gente bonita nas fotos ilustrativas; a poetisa Socorro Paiva me deixa emocionado com a bela história da poesia. Excelente Nota de Rodapé. Parabéns pelo conjunto! Forte abraço. Show!

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  4. Um lindo e expressivo poema que exalta um munícipio querido, Cabrobó. Versos tecidos com maestria da nossa amiga poetisa Socorro Paiva. Fotos que registras grandes momentos. Gostei do novo visual do blog e a Nota de Rodapé. Parabéns! Abraços

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  5. Quero agradecer à Socorro Paiva pela belíssima reminiscência em prosa, versos e fotos. Parabéns
    Aproveito o espaço para informar aos amigos que “NOTAS DE RODAPÉ” passará a ser uma nova seção em nosso Blog. O assunto postado nessa seção poderá ter relação com o tema principal, ou não. Todos podem colaborar, afinal o Blog “Não tem dono”, tem administradores. Um bom final de Semana e obrigado.

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    1. Obrigada, Jorge, pela oportunidade.

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  6. Nossa! Como é bom recordar nossos tempos de criança! Socorro Paiva é uma poetisa genial, que sabe como ninguém nos deleitar com seus versos belíssimos. Adorei! Parabéns pra ela e as ilustrações maravilhosas deram um toque tido especial ao tema. Abraços pra todos!

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  7. Como apenas nascido em Cabrobó, uma cidade que nem pude usufruir desse lado belíssimo narrado por minha querida irmã Socorro que só ela sabe os valores reais. Eu não tive uma tão boa referência desse município como lugar de felicidades. Parabéns, por descrever tão bem lembranças de um imaginário pra mim que nunca vivenciei. Deve ter sido muito bom, pois retrata da infância feliz associada a Cidade natal. Muito salutar para quem não conseguia se quer imaginar que uma época dessas foi real.
    Agamenon Leite de Paiva

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    1. Obrigada, meu irmão, é verdade o que você disse, mas sempre é tempo de fazer o que gostaria de ter feito.

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  8. Socorro, mensagem encaminhada por Oneida, por e-mail.

    "Amei, adorei, me senti protagonista nessa linda poesia. Minha infância foi brincando de circo com vocês. Lourdinha, Zé Miguel e você. Eu era trapezista e D. Eloina além de ter sido minha 1 professora em Cabrobó, me ensinou crochê e tricô. Me lembro de tudo. Me recorda da ida em sua casa nos fins de semana já em Recife, em Jardim Sai Paulo? Acho que sim.
    Mais troquei Direito por História.. kkkk se não tivesse trocado de área talvez hoje fôssemos colegas. Mais Arnaldo morreu e papai disse logo que não podia me sustentar em Recife. Fui trabalhar na Mesbla para pagar meu curso na Católica. Não me arrependo porque AMO HISTÓRIA.
    Beijos".

    Beijos.

    Atenciosamente,
    Oneida | oneidaalencar@hotmail.com

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    1. Querida Oneida, somos mais do que colegas, somos amigas e conterrâneas. Também tenho excelente recordações de toda sua família, seus dois irmãos Océlia e Arinaldo, foram meus colegas de turma durante todo o primário estudado na nossa cidade. Seus pais eram amigos dos meus. Ainda convivo vez por outra com o seu irmão Arnom. Vocês moram no meu coração. Muito obrigada por suas palavras, ficarei feliz em revê-la.

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