domingo, 3 de junho de 2018

O CIRCO



ELISABETE  LEITE



O CIRCO

          Clarinha morava, com o pai, em um casebre de madeira na periferia de uma pequena cidade. Apesar de muito pobre era amada, pois nascera com uma doença congênita, Paraplegia Espástica Infantil, que surgiu devido lesões celebrais na hora do parto... Ela vivia presa à cadeira de rodas, que era seu único meio possível de locomoção. Apesar de ser muito bonita, estava sempre malvestida, por falta de recursos financeiros do pai... 


          A Mãe da garotinha morrera, por causa de complicações na hora do parto e o pai era sua única família. Ele trabalhava como servente de pedreiro e, nem sempre tinha dinheiro para ajudar no vestuário, alimentação, tratamento e remédios para Clarinha. A menininha dificilmente sorria, pois onde morava não havia muita diversão. Ela gostava de ficar, na única janelinha da casa, com o seu olhar fixo em algum ponto da imensidão, a sonhar soltando pipas coloridas, que enfeitavam o céu, sem saber a simbologia do sonho...


          Um certo dia, a garotinha estava na janela, como de costume, quando viu surgindo na estrada de barro, uma velha Kombi bem colorida, que anunciava um espetáculo de circo: “Atenção criançada, sou o palhaço Pimpão, domingo é dia de circo! Venham participar do grande espetáculo às 17h00 horas, quando o sol se pôr no horizonte.” A garotinha olha para o velho palhaço, com o rosto pintado e uma grande flor no chapéu e, logo ficou fascinada... Já era muito tarde quando seu pai chegou, mas a jovenzinha estava ainda acordada. Senhor Pedro, pai de Clarinha, foi logo perguntando:


          - Minha filha, o que você faz acordada até altas horas? – Deixei leite e pão no fogão, você comeu?
          Clarinha olha para o pai e carinhosamente vai falando:
         - Papai, domingo é dia de circo! Eu queria ver o espetáculo.
         - Minha menina, você sabe das nossas dificuldades, tanto financeira como de locomoção; você presa a esta cadeira de rodas. Vá dormir agora! Disse-lhe o Pai, com muita tristeza.
          Senhor Pedro acomodou a garotinha na cama e, vai dormir no velho sofá, único local disponível da casa. Clarinha passou a noite quase toda chorando bem baixinho para o Pai não a ouvir. O sol já havia nascido quando Clarinha desperta e, vai tomar seu café da manhã. Na mesa tem um bilhete do Pai: “Minha filha, hoje é sábado! Eu chegarei mais tarde!” À noitinha, ao chegar em casa muito cansado, o pai da garota beija a face da filha e vai logo falando:

         
 - Minha menininha, eu trabalhei o dia todo no circo e, como pagamento, ganhei duas entradas para o espetáculo deste domingo. Clarinha não sabia o que dizer. Olha fixamente para o Pai, sabe que não pode se levantar da cadeira de rodas, mas estendeu seus bracinhos; ele a envolveu em um longo abraço e, choraram juntos...

        

  - Chegou o domingo, o dia do grande espetáculo no circo. Clarinha pediu para seu Pai vesti-la com o melhor vestido. O Senhor Pedro foi empurrando a cadeira de rodas, pela estrada esburacada de barro, até onde o circo estava armado. Era um circo antigo, as lonas estavam velhas e desgastadas pela ação do tempo, tinha poucos animais e pouca gente trabalhando. Na entrada estava um garoto de Pernas de Pau, recepcionando os convidados e recebendo os ingressos. Para Clarinha tudo aquilo era fantástico. Ela olha para o alto e contempla o crepúsculo que tinge de vermelho a linha do horizonte... O Senhor Pedro deixa sua filha bem acomodada em frente ao picadeiro, já que a menina não podia se sentar na arquibancada. O olhar da garotinha era de fascinação, seguia cada passo dos vendedores de amendoim, pipoca, pirulito, picolé. O colorido vibrante do ambiente era só magia. Em poucos segundos, o velho palhaço entra no picadeiro, a criançada vai ao delírio e, a euforia é quebrada pelos gritos do palhaço:

          - E o palhaço quem é?
          E a garotada repetia em coro:
          - É ladrão de mulher!
          O senhor Pedro percebeu que a filha estava gritando e sorrindo. O momento era de pura animação. Neste clima, o picadeiro foi invadido por animais e pessoas: Um cavalo malabarista, dois cachorros com roupas de gente, um mágico que tirava um coelho da cartola, uma bailarina que andava na corda bamba, um trapezista suspenso no ar. Clarinha chorava de tanta alegria. O mais emocionante foi quando surge o leão, magro e velho, rugindo bem devagar. Mas ninguém percebeu, todos gritavam animados sem parar:

    
      - O leão é o rei dos animais... ele é amigo da gente!
          Um vendedor de balões coloridos, que parecia até um buquê suspenso no ar, ficou em frente da menina e deu-lhe de presente, um balão vermelho. Ela agradeceu e começou a chorar de emoção. A felicidade era tanta, que Clarinha parecia flutuar...
          Já era noite, quando as cortinas se fecharam, as luzes se apagaram e o show terminou.

          


 Os tempos se passaram... nunca mais a garota deixou de sorrir. Ela percebe nas pequenas coisas a grandiosidade que é viver e, o significado de sonhar soltando pipas coloridas. Clarinha, agora, sabe que é hora de tomar o controle da direção de sua vida, deixar os bons ventos soprarem em busca de mudanças.
          Clarinha é exemplo de felicidade e superação.
Elisabete Leite – 29/05/2018


 Em virtude do Grande Espetáculo, hoje não teremos Nota de Rodapé.
Todos os vetores e clipart foram copiados do Google.



15 comentários:

  1. Sensacional Conto da minha grande amiga Elisabete Leite! Uma história comovente, muita emoção, liberdade de expressão e amadurecimento literário. Li e reli muito emocionado, uma história de superação e muito amor. Um Conto apropriado para todas as idades; de acordo com a faixa etária à temática passa diferentes mensagens. As ilustrações, o colorido fascinam. Estou sem palavras para descrever a grandiosidade da página. Aplausos ao blog! Parabéns aos irmãos Leite. Poetisa você se superou. Bom domingo a todos!

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  2. Esse conto tem história. Elisabete enviou para mim um outro conto, O Grande Espetáculo. Falei para ela: Beta, o seu conto está bom, é bonito, só que tenho um desafio para você. Porque você não coloca Clarinha em um bairro da periferia, coloca um circo desses do interior, pequeno com lonas gastas e um velho palhaço. E no final falei: porque não coloca Clarinha em uma cadeira de roda.
    Ela aceitou o desafio e duas horas depois me enviou essa obra de arte. Esse conto mostra uma Elisabete madura, completa, pronta para escrever para todas as idades. Com os olhos cheios de lágrimas lhe disse: é essa a Elisabete que eu quero publicar.
    Parabéns Elisabete Leite por seu conto maravilhoso.

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  3. Muito lisonjeada, comovida, feliz, emocionada e agradecida pela arte final do conto. A página é pura alegria. Quando Jorge me fez o desafio. Fechei meus olhos e me projetei de volta ao passado. No tempo dos circos de lonas, no bairro do poço, lá em Maceió. Juntei os pedacinhos das lembranças, com outras experiências e, dei asas à imaginação. E o resultado foi este. Faltou a dedicatória, junto ao meu nome. "Dedicado ao meu irmão Jorge Leite". Gratidão sempre! Tudo perfeito! Beijos no coração de cada um. Amo vocês!

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  4. Nasce (pelo menos para mim, que desconhecia esta sua faceta) uma contista! Fruto de uma gravidez desejada (anelada por seus leitores), de parto natural (linguagem espontânea e texto fluente) e em berço de ouro (no blog Maçayó). Uma contista, promissora, que sabe contar histórias com emoção e prender a atenção de seus eventuais leitores, adultos ou jovens. Uma contista que esbanja poesia em sua prosa ("Ela olha para o alto e contempla o crepúsculo que tinge de vermelho a linha do horizonte..."; "Um vendedor de balões coloridos, que parecia até um buquê suspenso no ar..."; "A felicidade era tanta, que Clarinha parecia flutuar..." etc). Parabéns, amiga, poetisa e contista Elisabete Leite! Sucesso!

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  5. Sim, minha rainha, realmente você se superou. Eu me lembrei da ocasião em que eu fui a um circo pela primeira vez. De fato é uma grande emoção. Imagine para uma menininha naquelas condições. Parabéns a você por essa grande obra e ao Rei do Blog por mais esse trabalho magnífico. Bjos. Até breve.

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  6. Espetacular o conto da grande poetisa Elisabete Leite. Estou muito surpreso pois desconhecia esta obra de arte. Uma temática envolvente. Um conto que prende o leitor do início ao fim, a maneira como foi abordada a mensagem edificante é tocante em todos os sentidos. As falas, desenvoltura gramatical e literária, plenamente notável. Estou orgulhoso em poder interagir neste maravilhoso blog. O conto é iluminado, tanto quanto a personagem Clarinha. Imagens ilustrativas dignas de aplausos e parabéns pelo conjunto. Do amigo Henrique...

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  7. Realmente, é uma maravilha de conto da minha querida amiga Elisabete Leite, muita emoção em uma história envolvente. Uma mensagem de superação e Amor. Uma linda inspiração de poetisa e contista. O colorido é mágico, um mundo de fantasia que se mistura com a realidade. Leitura para qualquer público e idade. Estou encantada com este Grande Espetáculo. Parabéns ao blog e ao poeta Jorge Leite pela notável partilha. Muito bom fazer parte deste cantinho do saber. A você amiga poetisa só me resta aplaudir. Realizações sempre . Este Conto já é um sucesso.

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  8. Fátima Leite Zeferino3 de junho de 2018 às 14:13

    Adorei Beta, um conto muito lindo. Ao Jorge tudo lindo! Parabéns

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  9. Uma página deslumbrante, colorido sentimento, mensagens edificantes e muita maestria ao descrever as cenas, grande conhecimento prévio da temática. Um conto belíssimo que muito fascina. Jorge Leite está de parabéns pela arte final. Aplausos para também contista Elisabete Leite e sucesso sempre. Um feliz domingo a todos!

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  10. Apaixonante história de superação e muito amor envolvido entre Pai e filha, muita sensibilidade e emoção em um texto recheado de mensagens edificantes. A também contista Elisabete Leite vai viajando na sua imaginação e, fazendo o leitor se emocionar. Uma belíssima página, imagens chamativas adornam toda narrativa, muito pertinentes ao mundo infantil, apesar do conto ser apropriado para toda faixa etária. Aplausos aos irmãos "Leite" pela arte final. Parabéns amiga e sucesso sempre. Boa tarde a todos!

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  11. Ah! Como esse lindo e tristinho conto,me fez recordar, no sertão da Paraiba, em uma linda noite, levei meus dois meninos e fomos ao circo, grossas lonas verdes e chão de areia. Só não tinha, a personagem Clarinha,ou estava presente e eu não percebi.Clarinha pura ,meiga,só queria sorrir, e o fez:perante gesto nobre do vendedor de balões vermelhos, tão lindo e simples gesto, que Clarinha,não parou mais de sorrir.Parabéns, amei!Querida Beta, esse conto,faz a gente vivenciar mais uma vez, a nossa infância.

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  12. Eita que página maravilhosa! Um conto brilhante da minha amiga Elisabete Leite. Viajei em cada parágrafo, uma história de muito amor e superaçao. Uma narrativa emocionante. Com crescimento literário notável. As imagens ilustrativas deram um colorido especial e vida as personagens. Orgulhoso de interar neste blog que é pura magia. Parabéns a ambos pela arte final. Boa noite e excelente semana! Abraços

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  13. Um magnífico conto da minha grande e estimada amiga poetisa Elisabete Leite, muito colorido, mensagem edificante de superação e amor entre Pai e filha. O clímax prende o leitor do início ao fim, passando harmonia e graça... Bete se superou tanto quanto Clarinha ao narrar com mestria um conto que mistura ficção e realidade. Mas já era de se esperar, pois a amiga foi amadurecendo como contista desde a inesquecível História de Sophia Maria, a garotinha que foi até o Céu. O blog nos contempla com diferentes mensagens. É sim, um local de ensinamentos e grande interação. O Poeta Jorge deu um toque de mestre na arte final. E o resultado é este Grande Espetáculo. Bravo parabéns e saudades de todos! Da amiga Lis

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  14. Quero agradecer as palavras de carinho de todos os meus familiares, amigos e leitores, pelas ilustres presenças e gentis comentários. Lisonjeada por este momento de arte. Beijos e muito obrigada!

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  15. Sou Gugu seu aluno e gostei do circo e tenho 9 anos gostei da historia, estou com cuidado no portugues. Fessora bete lindo isto aqui parabens Gustavo Luiz

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