PERDÃO, POR FAVOR!
Era
inverno, a estação mais fria do ano, mas naquele dia chovia pouco e, o luar
argênteo ainda tingia o horizonte de prata, porém o sol já pedia passagem e
começa a resplandecer, lentamente, por trás dos montes...
Esther acabara de se levantar, ela
abre a janela para observar o clima e, fica ali parada enamorando o amanhecer
que surgia magnificente, dando seu espetáculo no céu. Ela sempre acorda muito
cedo, pois sendo restauradora de obras de arte, precisa acordar antes do
alvorecer, para aproveitar o silêncio matinal; normalmente, ela tem dedicação
exclusiva pelo seu ofício. Logo, o silêncio e quebrado pelo vozeirão de Marcos:
- Querida Esther, bom dia! Já estás
acordada? Veja, o dia nem amanheceu!
- Bom dia, meu bem! Eu quase não
dormi, fiquei trabalhado no quadro da Casa de Praia, que vai participar da
exposição de arte no novo Shopping. Ela responde-lhe com seu sorriso
encantador.
A jovem restauradora gostava de
vestir-se com roupas alvas e finas, onde a transparência do tecido mostrava a
silhueta de seu magnífico corpo. Ela encontrava-se radiante naquela manhã, pois
prendera seus cabelos longos e loiros com uma pequena presilha, bem no alto da
cabeça, deixando pequenas mechas loiras caírem pela sua face rosada, ela estava
vestida, apenas, com um blusão branco transparente. Sua beleza era tanta que
desperta atenção do marido, que aproveita para elogiá-la:
- Querida, você está adorável hoje!
Está fazendo muito frio! Onde está seu agasalho? Já terminou de arrumar as
malas?
- Querido, eu não sinto frio! Adorável
sou todos os dias. Falta pouco para terminar de arrumar as malas. Responde-lhe
sorridente.
Marcos a deixa sozinha e vai terminar
de arrumar as malas. Ele aproveita para tomar banho e se barbear, fica feliz a
cantarolar no toalete. O celular dele toca várias vezes, porém ele não
escuta. Esther entra no quarto e percebe
o som insistente do toque de mensagem no celular do marido. Ela pega o celular vai
para o corredor e, não consegue acreditar na enxurrada de mensagens: “Liguei
várias vezes! Preciso falar contigo, pois Esther me convidou para passar uns
dias com vocês na Casa de Praia. Ligue para mim assim que puder, já estou
morrendo de saudades de você. Com amor Isabella.” A jovem Esther permanece
perplexa sem entender nada, pois Isabella é a sua melhor amiga, desde a infância
elas são inseparáveis, ela sempre confiou na amiga e no marido que diz
diariamente que a ama. Esther fica
pensativa: “Não vou me precipitar, aproveitarei que iremos à Casa de Praia e
observarei melhor o que anda acontecendo.” Ela tenta disfarçar e, volta ao
quarto para falar com o marido:
- Marcos, vamos aproveitar que chove
pouco, pois ainda vamos apanhar Isabella, ela irá conosco, vai te fazer
companhia enquanto eu trabalho na restauração do quadro.
- Esther, meu amor, não entendo o
porquê da ida da sua amiga conosco. Mas, se for de seu desejo, passaremos por
lá...
Aproximadamente às 14h00 horas, o casal
e a amiga chegam à Casa de Praia. Esther precisa se dedicar com urgência ao
quadro, pois o principal motivo da permanência deles ali, na verdade é a
restauração da obra. Esther está um pouco deprimida pelo ocorrido, mas ela sabe
que não pode misturar o lado profissional com o emocional e, isso ela sabe separar
muito bem. Ela olha firmemente para o esposo e para a amiga e fala:
- Vou passear um pouco pela orla, não
quero que se preocupem comigo e, sai em seguida.
Esther caminha pela praia deserta até as
pernas não suportarem o cansaço físico. Ela retorna para casa e, deita-se na
rede, fica lá sentindo o aroma da maresia, logo adormece. A restauradora é
despertada por gritos que vinham do lado da praia: “Socorro... socorro, por
favor!” O entardecer já havia despertado e os crepúsculos avermelhavam todo
horizonte. Ela corre em direção à praia, para identificar quem estava gritando.
Logo, avista de longe seu esposo, Marcos, que parecia desmaiado na areia macia,
mas o foco da cena eram os gritos de Isabella que estava sendo engolida pelas
ondas em alto mar. Esther tenta acordar Marcos, sem sucesso. Então, ela não
pensa duas vezes adentra na vastidão do oceano e vai nadando para salvar sua
amiga, quanto mais ela segue nadando, vai se afastando da beira-mar. Naquele
momento, a preocupação é sua companheira, ela já não consegue ver Isabella.
Logo, os gritos cessam e, o pavor toma conta da garota, que já não tem força
para nadar. Sente algo tocar-lhe o corpo, que treme de medo; assim, percebe que
é Isabella, que boia inerte. Esther segura firme pelo braço da amiga, toma fôlego
e volta nadando, com muito sacrifício ela consegue chegar à beira-mar. Isabella
como um passe de mágica desperta e olha firme para Esther e diz:
- Perdão, por favor! Você salvou a
minha vida.
- Eu não tenho o que a perdoar,
Isabella! Você foi quem salvou o meu futuro, modificou o meu destino, fazendo-me
despertar de um sonho imaginário. Agora, estamos quites! Respondeu-lhe e sai
caminhando, lentamente, pela areia fina daquela praia deserta...
Marcos já havia despertado do misterioso
desmaio e tinha ido buscar ajuda... Quando tudo voltou ao normal, ele sai à
procura de Esther e não a encontra em lugar nenhum.
A chuva cai forte e o frio da noite
torna o ambiente congelante.
E
a vida segue sem pedir licença...
Elisabete Leite – 13/07/2018
Notas de Rodapé
PRESSÁGIO OU REALIDADE
Envolvida
pela brisa suave do entardecer
Adormeci no embalo da rede
Entre flashes de devaneios ou realidade
O surpreendente acontecia...
Acordei chorando de saudade,
com calafrios pelo corpo quente
Um pressentimento que não era normal
Um ruído estrépito, uma angustia que não entendia
Estava completamente confusa, tudo anormal...
Adormeci no embalo da rede
Entre flashes de devaneios ou realidade
O surpreendente acontecia...
Acordei chorando de saudade,
com calafrios pelo corpo quente
Um pressentimento que não era normal
Um ruído estrépito, uma angustia que não entendia
Estava completamente confusa, tudo anormal...
E
no silêncio de final de tarde
Alguém predizia um fato a sussurrar
Procurei escutar com exatidão
Mas o som ensurdecia a voz e, eu não ouvia...
Premonição ou realidade?
Devaneios... fatos que não aconteciam!
Presságio entre o sonhar e o acordar
Permaneci inerte, completamente paralisada
Sentia-me intrusa naquele exato instante,
Será que estava a sonhar!
Ouvi a porta levemente fechando
Corri desesperadamente pra te encontrar,
Alguém predizia um fato a sussurrar
Procurei escutar com exatidão
Mas o som ensurdecia a voz e, eu não ouvia...
Premonição ou realidade?
Devaneios... fatos que não aconteciam!
Presságio entre o sonhar e o acordar
Permaneci inerte, completamente paralisada
Sentia-me intrusa naquele exato instante,
Será que estava a sonhar!
Ouvi a porta levemente fechando
Corri desesperadamente pra te encontrar,
Procurei-te em cada canto da casa
Até no quarto não conseguia te achar
Abri armários, gavetas... Tudo vazio
Logo, eu deduzi que os sonhos eram reais
Na escrivaninha um bilhete dizia:
“Nada mais resta, até um dia!”
Envolvi-me por um imenso vazio...
Assim, acordei de verdade
Não era presságio, era realidade.
Até no quarto não conseguia te achar
Abri armários, gavetas... Tudo vazio
Logo, eu deduzi que os sonhos eram reais
Na escrivaninha um bilhete dizia:
“Nada mais resta, até um dia!”
Envolvi-me por um imenso vazio...
Assim, acordei de verdade
Não era presságio, era realidade.
Elisabete Leite
Belíssima e emocionante página, do jeito que gosto. Estou muito feliz, lisonjeada e agradecida, por mais um Conto meu compartilhado neste magnífico blog. Uma temática que espelhei-me em uma grande amiga, a qual separou-se atualmente, um casamento de vinte e um anos. As deslumbrantes imagens ilustrativas bem ao meu gosto, que retratam muito bem o tema da página. A nota traz meu poema que tem a mesma temática do conto. Tudo lindo! Obrigada Jorge pelo carinho da arte final. Beijos...
ResponderExcluirEspetacular seu Conto amiga Elisabete Leite! Cada domingo um novo tema, novas emoções e grandes mensagens, este é o diferencial nas suas narrativas. O leitor se deleita com ricos momentos de arte literária. A temática de hoje é bem atual, cotidiana, que pode ser interpretada de diferentes olhares. A narrativa retrata um casamento de aparência com segundas intenções. A realidade apresentada acontece diariamente. Sempre bom interagir e aprender. O poema é perfeito, um mine conto poético de muita ação. Tudo maravilhoso nesta página. As ilustrações estão impecáveis. Parabéns a todos. Aplausos Bete, por mais uma obra de arte. Abraços e bom domingo a todos!
ResponderExcluirEu me coloquei no lugar da personagem Ester e imaginei se eu tentaria reanimar meu marido ou se correria pra salvar a vida da "amiga da onça"! Sei não, viu? Com meu gênio intempestivo?!!! Mas, por outro lado, esse gesto da Ester não só salvou seu futuro, como a sua própria alma. Mas, fiquei curiosa: aonde será que ela foi?! Com certeza ao encontro de seu novo futuro!
ResponderExcluirParabéns, Bete, por mais uma história linda que nos permite DIVAGAR tão poeticamente!!!
PRESSÁGIO OU REALIDADE até parece o início de tudo. Muito lindo!
Adorei as imagens ilustrativas! Bjos
Li atentamente a história da Ester. Muito bonita. Mais interessante ainda, como arte literária me envolvi e me emocionei. Muito obrigada por mais esta oportunidade de compartilhar essas duas maravilhas. Show de ilustrações! Até mais ver!
ResponderExcluirUm Conto belíssimo e emocionante, o clímax prende qualquer leitor do início ao fim, concordo contigo Geovanna a temática é atualíssima, com temperos do cotidiano de um casal, uma relacionamento de interesses. Li e reli essa narrativa que nos envolve. A personagem Esther foi a única beneficiada nisso tudo, acordou de um sonho terrível, foi enganada e teve a chance de resgatar o seu futuro. O poema lindíssimo poema/conto, parece sim, o início de tudo. Envolvente, emocionante, com um final surpreendente, de tudo que um bom conto precisa. Imagens ilustrativas de muito bom gosto, ao estilo da autora do Conto Elisabete Leite. Parabéns pela arte final. Aplausos pelo conjunto. Show de Conto! Abraços a todos!
ResponderExcluirPoxa vida, minha amiga! Que Conto sensacional: tem enredo, suspense, sentimentos, nesta narrativa com final surpeendente. A atitude da personagem Esther é perfeita, ela deu na amiga um tapa com luva de pelica, revidou de maneira elegante e educada, bem ao estilo da autora Elisabete Leite. O final está notável. Os domingos para mim, tem sempre boa leitura. As imagens sao pertinentes ao tema, o amigo Jorge, sabe responder com maestria. O poema e também um conto perfeito. Eita que beleza de blog. Parabéns a ambos e abraços a todos!
ResponderExcluirUma maravilha de momento de arte literária; um Conto de rara beleza, com muito sentimento, surpresas, suspense e um final perfeito. Encantada com esta página perfumada, mágica e recheada com mensagens e poesia. A nossa amiga Elisabete Leite sabe emocionar qualquer público, os leitores buscam nas páginas deste blog histórias que os completem, sendo de fantasia o de realidade. Para mim é o maior prazer ler-te. Sua poesia diz tanto quanto o conto, temáticas afins. As imagens, meu poeta favorito, Jorge Leite, sao colossais. Aplausos e parabéns ao blog pelo sucesso. Saudades de todos!
ResponderExcluirSocorro Almeida me manda sempre o link para minha apreciação. Pouco comento, mas este conto PERDÃO, POR FAVOR faço questão de dizer que a poetisa Elisabete me fez navegar na história da Ester. Deixou para nossa imaginação o desfecho final. Faço votos que a Ester tenha encontrado o caminho para uma felicidade bem merecida. De preferência nos braços de um novo amor! Linda e emocionante história! Parabéns pra ela.
ResponderExcluirParabéns e obrigado, cara escritora (contista e poetisa) e amiga Elisabete Leite, por mais uma "dobradinha" literária: conto + poema! Que legal ver você deslanchando neste gênero recém-adotado (a prosa) e tirando de letra o antigo ofício (a poesia)! Agora vou relê-los e, depois, aguardarei com ansiedade seus novos escritos. Um abraço!
ResponderExcluirObrigada amigos e amigas pelos emocionantes e precisos comentários. Muito feliz, lisonjeada e agradecida a todos. Muito importante para mim as palavras de cada um, o olhar poético, muito me deixa realizada. Beijos e uma noite de Luz.
ResponderExcluirQue deslumbrante Conto, ação, emoções, surpresas e excelente mensagem, com um final surpreendente de tirar o fôlego. E a vida é bem assim! Uma temática atual, história de um cotidiano de vida. A personagem Esther foi precisa, soube escolher o seu novo destino. Aos domingos histórias diferentes narradas neste fantástico blog. Minha amiga Elisabete Leite sabe nos emocionar com seus belíssimos Contos e poemas. A poesia é tão linda e interessante quanto o Conto. As ilustrações estão dando um show, o poeta Jorge Leite conhece o estilo da irmã. Que família de grandes. Forte abraço e excelente semana a todos!
ResponderExcluirÉ muito bom acompanhar a trajetória da minha amiga que se revela como escritoria, ela é perfeita em todas as temáticas e modalidades, ela escreve Poesias e Contos que nos deixam emocionados. É uma pena que o Brasil nao esteja preparado, para valorizar reconheçer e acolher os novos talentos que surgem, mentes brilhates como a de Elisabete Leite. Seu Conto é magnífico amiga, um enredo com clímax que emociona do início ao fim, um desfecho supreendente, que deixa o leitor interagir na narrativa e dicidir o final da personagem principal. Tudo perfeito! As imagens escolhidas por outro talentoso, Jorge Leite, se completam e se entrelaçam ao tema do Conto e do Excelente poema. Parabéns a ambos! Bom dia a todos!
ResponderExcluirCorrigindo erros do celular: "escritora" ... "decidir"
ExcluirUma maravilha de conto; suspense, sentimentos, clímax, em um enredo emocionante e final surpreendente, da maneira que os leitores gostam. A amiga Elisabete sabe emocionar, é sempre um prazer fazer uma leitura de conteúdo e qualidade. Cada domingo uma nova história! Amei as imagens que completam o tema do excelente Conto e do lindo poema. Parabéns aos poetas pelo conjunto. Abraços... Fico no aguardo de novos escritos! Tudo muito belo!
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