Circo da Vida
Eles são sepulcros caiados,
Leito das eternas ilusões,
São palhaços todos pintados
Que desfrutam das solidões.
Seus corações são de pedras
Pois não são capazes de amar
São desvairados e covardes,
Hipócritas, devo chama-los
Mundo cão, mentes obscuras
Estão perdidas estas criaturas
E não temem o tempo passa.
Atrações, circos, vidas de utopias
Protagonistas lideram as magias
Exaltando seus rituais diabólicos.
Rita de Cássia
Um Fim
No vendaval das quimeras desse amor,
Sombrio reflexo no coração, a dor
Afaga o peito dessa donzela,
Tornando-a meretriz de um mundo sem amor.
A carne que cobre os ossos
Dessa meretriz quimera,
Espinho sem flor machuca
No ritual fúnebre que espera.
Almejando o sorriso brando
Da terra que te espera
Prepara o espírito dessa matéria
Se o único pensamento obscuro
Afasta de te a sombra da morte
O caminho último um fim desse mundo sujo
Rita de Cássia
Espelho
Olho pra ti e me vejo
Vejo um olhar sombrio
Um olhar apaixonado
És espelho do meu passado
Do passado que se fez
presente em minha vida.
Rita de Cássia
O soneto (do italiano sonetto, pequena canção ou,
literalmente, pequeno som) é um poema de forma fixa, composto por quatro
estrofes, sendo que as duas primeiras se constituem de quatro versos, cada uma,
os quartetos, e as duas últimas de três versos, cada uma, os tercetos. A forma
mais comum é a que contém dez sílabas poéticas por verso, classificando-se como
decassílabo, geralmente com acentuação rítmica na sexta e décima sílabas (verso
heroico) ou na quarta, oitava e décima sílabas (verso sáfico). Os sonetos
costumam ter uma estrutura semelhante. O texto começa com uma introdução, que
apresenta o tema, seguida de um desenvolvimento das ideias e termina com uma
conclusão, que aparece no último terceto. Essa é, em geral, a estrofe
descodificadora de seu significado.
Estrutura
Pode ser apresentado em três formas de distribuição dos
versos:
Soneto italiano ou
petrarquiano: apresenta duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas de
três versos (tercetos);
Soneto inglês ou
Shakespeariano: três quartetos e um dístico;
Soneto
monostrófico: Apresenta uma única estrofe de 14 versos:
Para além destas formas, pode haver o acrescentamento
(geralmente de três versos) feito aos 14 versos de um soneto. Este
acrescentamento é chamado de estrambote e o poema passa a chamar-se soneto
estrambótico. O termo deriva do italiano strambotto ("extravagante,
irregular"). Uma vez que o soneto é caracterizado exatamente como um poema
de 14 versos — tradicionalmente dois quartetos e dois tercetos —, o acréscimo
de um ou mais versos no final do poema (de acordo com a conveniência do
escritor) faz da obra um soneto irregular — estrambótico, como usado, por
exemplo, por Miguel de Cervantes.
História
O soneto teria sido criado no começo do século XIII,
possivelmente na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II
Hohenstaufen da mesma forma que as tradicionais baladas provençais. A invenção
do soneto é atribuída a Jacopo da Lentini - conhecido como Jacopo Notaro, após
receber o título «Jacobus de Lentino domini imperatoris notarius» - poeta
siciliano e imperial de Frederico II, e surgiu ali como uma espécie de canção
ou de letra escrita para música, possuindo uma oitava e dois tercetos, com melodias
diferentes. Outras fontes poderão atribuir tal invenção a outros poetas,
maioritariamente provençais, embora sua difusão tenha se dado indubitavelmente
através dos italianos.
O número de linhas e a disposição das rimas permaneceu
variável até que o poeta toscano Guittone d'Arezzo (ou Fra Guittone), tornou-se
o primeiro a adotar e aderir definitivamente àquilo que seria reconhecido como
a melhor forma de expressão de uma emoção isolada, pensamento ou ideia: o
soneto. Durante o século XIII criou o soneto guitoniano, padronizado, cujo
estilo foi empregado por Petrarca e Dante, com pequenas variações.
Coube ao fiorentino Francesco Petrarca aperfeiçoar a
estrutura poética iniciada na Sicília, difundindo-a por toda a Europa em suas
viagens. Sua obra engloba 317 sonetos contidos no Il Canzoniere, a coletânea de
poesia que exerceu influência sobre toda a literatura ocidental. Os melhores
poemas desse livro são dedicados a Laura de Novaes, por quem possuía um amor
platônico. Destacam-se os recursos metafóricos e o lirismo erótico dos sonetos.
Petrarca popularizou os esquemas de rimas abba abba cdc dcd e abba abba cde
cde.
Dante Alighieri, o autor de A Divina Comédia, e também um
seguidor de Guittone, em sua infância já compunha sonetos amorosos. Seu amor
impossível por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari) foi imortalizado em
vários sonetos em Vita Nuova, seu primeiro trabalho literário de grande
importância.
Graças a uma viagem que fez para a Itália entre 1521 e 1526,
o poeta português Sá de Miranda regressou com uma nova estética poética para
Portugal, introduzindo pela primeira vez o soneto, a canção, a sextina, as
composições em tercetos e em oitavas, e os versos de dez sílabas, conhecidos
como decassílabos. Luís Vaz de Camões adotou esta estética, compondo diversos
sonetos com o amor como tema principal e imortalizando o soneto em língua
portuguesa.
William Shakespeare, além de teatrólogo, desenvolveu o
soneto inglês, composto por três quartetos e um dístico, diferente da
composição original de Petrarca. Desde o século XVI, o soneto adquiriu
importância ao redor do mundo, tornando-se a melhor representação da poesia
lírica. Alguns casos notáveis são: o poeta russo Aleksandr Pushkin compôs
Eugene Onegin, um poema repleto de sonetos adotado por Tchaikovsky para compor
uma de suas óperas; o francês Charles Baudelaire ajudou a divulgar os sonetos
em versos alexandrinos e com novos esquemas de rimas, como abba cddc, efe fef
(o chamado soneto parnasiano), em Les Fleurs du Mal. Vivaldi também usou
sonetos e Liszt musicou sonetos de Petrarca.
Finalmente, após aderir ao humanismo e ao estilo barroco, o
poema dos catorze versos acabou sendo desprezado pelos iluministas. No século
XIX, ele voltou a ser cultivado, com mais fervor, por românticos, parnasianos e
simbolistas, sobrevivendo ao verso livre do modernismo - que viria em seguida -
até os dias atuais.
A
Minha Dor
por Florbela Espanca
Poema publicado em Livro das Mágoas
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém
Belíssimo momento de arte poética. Lindos e expressivos poemas da amiga poetisa Rita de Cássia. Uma página criativa bem ao estilo da poetisa. As belas imagens pertinentes ao tema abordado. A nota de rodapé traz grandes ensinamentos... A história e estrutura do Soneto é importantíssima para o ambiente poético. A iniciativa do poeta Jorge Leite é louvável, um mestre que entende do assunto. Parabéns aos poetas pela excelente partilha. Amei, tudo muito lindo!
ResponderExcluirLindos e expressivis poemas da amiga poetisa Rita de Cássia que mais uma vez chega para nos deleitar com seus versos adoráveis. As imagens ilustrativas completam a temática abordada e a nota de rodapé é pura literatura poética... atualmente os Sonetos seguem diferentes temas, já antes tinham destaque a dor, tristeza e sofrimento. Sempre bom conhecer mais sobre a história do Soneto, uma excelente iniciativa. Parabéns aos poetas pela arte final. Maravilhoso entardecer a todos. Abraços
ResponderExcluirQue deslumbre de página! Eu particularmente gosto muito dos versos da poetisa Rita de Cássia, um versejar singelo e tecido com muita magia. O poeta Jorge Leite sempre se superando nas imagens ilustrativas que completam com expressividade o tema. Magnífica iniciativa da nota de rodapé, este blog contempla o leitor com grandes ensinamentos, sempre bom aprender mais sobre o Soneto. Parabéns a ambos! Tudo belo! Abraços
ResponderExcluirLindíssimos os poemas da amiga poetisa Rita de Cássia, uma temática forte, mas tecida de maneira suave. As imagens ilustrativas foram escolhidas por quem entende do assunto. Amei a nota de rodapé, conhecer a história e o estilo do Soneto é aprender mais. Show de página. Aplausos e parabéns a ambos!
ResponderExcluirParabéns, Rita de Cássia, pelos seus lindos poemas. Especialmente o soneto UM DIA. É bem seu estilo, românticamente forte e bem expressivo. Até breve. No aguardo de novas maravilhas. Abraço
ResponderExcluirRetificando: soneto UM FIM
ExcluirGente, esses sonetos de Afonso Stebanez, Augusto dos Anjos e Florbela Espanca são de emocionar. Nosso rei se superou nas pesquisas sobre sonetos. Adorei. Parabéns, dr. Jorge!!
ExcluirRetorno aqui pra comentar sobre os poemas da poetisa Rita de Cássia. Não conhecia o trabalho dessa jovem e confesso que apreciei bastante seu estilo. Me chamou a atenção o soneto EU, de Florbela Espanca. Muito bonito. Parabéns a todos.
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