Elisabete Leite
SONHO
DE CRIANÇA
Pedrinho
era um garoto humilde e muito triste, vivia com sua Mãe e
desconhecia a identidade do Pai. Eles moravam em um assentamento de
Sem Terra próximo a uma pequena cidade interiorana no Nordeste do
Brasil. Sua Mãe era muito doente e, infelizmente o garoto precisava
trabalhar para ajudar nas despesas com alimentação e remédios para
ela. Pedrinho gostaria de ter uma vida diferente, ele queria
aproveitar o seu tempo de infância: Estudar, brincar, conviver com
os amiguinhos, fazer tudo que uma criança na idade dele faz. Pois,
para ele, ser criança era ter alegria, era uma época inesquecível.
Mas, com Pedrinho não era assim: o menino não aproveitava essa
importante fase da sua vida.
Todas
as manhãs... O garoto acordava muito cedo, quando a Lua ainda nem
havia se escondido, para executar seu ofício diário. Ele seguia
pela entrada esburacada, em companhia das estrelas que cintilavam no
céu e o luar que iluminava o seu caminho, até o local de destino.
Quando o sol já resplandecia por trás dos montes, ele finalmente
chegava ao Posto de Gasolina onde vendia pipoca e água mineral para
os clientes que iam abastecer seus carros e caminhões. Lá
permanecia até o anoitecer, quando retornava para casa, com o corpo
cansado e rosto feliz de dever cumprido. Mas, antes ele passava na
pequena mercearia e comprava pão. Essa era a rotina diária do
pequeno Pedrinho, aos seus dez anos de idade. O menino tinha um sonho
de criança: “Queria passar momentos felizes em um Parque de
Diversão.”
Chovia
muito naquele lugar e, o clima estava tempestuoso. Pedrinho acordou
mais tarde, pois ele perdeu a noção do tempo, é que devido as
chuvas, lá fora o tempo, ainda, estava escuro. Logo, percebeu que
sua mãe ainda não tinha acordado, ele levantou o lençol que
dividia a sala em dois cômodos e, se aproximou rapidamente dela e
vai falando:
-
Mãe, a senhora está bem? Por que, ainda, está deitada? Vou buscar
um copo de café, para a senhora tomar seus remédios.
O
garotinho já ia saindo, quando a mãe diz:
-
Meu filho, hoje, não amanheci muito bem, eu acho melhor você não
sair de casa.
Pedrinho
fica, inerte, olhando para sua mãe que permanecia deitada em um sofá
velho, sem conforto nenhum, abaixa o olhar e responde-lhe:
-
Mãezinha, já está faltando açúcar, pó de café e ração para
os animais. Por favor, eu preciso ir! Eu te prometo que voltarei mais
cedo.
Pedrinho
trouxe um copo de café para sua mãe e saiu depressa. Ele estava
muito triste, por não poder ficar com ela... raios cruzavam o céu
de um canto a outro e a lama dificultavam o trajeto do menino, que
corria bastante para chegar ao local de destino. Chegando ao Posto de
Gasolina, de longe ele percebeu uma movimentação diferente, algumas
pessoas circulavam sem norte e, lá estavam dois caminhões parados,
com lonas velhas protegendo a carga da chuva forte. Ele se aproximou
de um caminhoneiro e vai logo perguntando:
-
Senhor, quer comprar pipoca e água mineral para me ajudar?
-
Menino, você não tem idade para trabalhar! Estou sem dinheiro
trocado, mas bem que eu gostaria, de um copo d’água, para aliviar
minha sede, seria um oásis nesse momento. Responde-lhe e, abaixa a
cabeça.
-
Eu preciso trabalhar, estou com minha mãe muito doente e, não tenho
pai. Não tem importância pelo dinheiro, o senhor pode aliviar sua
sede; a água está bem geladinha. Disse-lhe o garoto quase chorando.
O
homem pegou a garrafa e tomou depressa, deixando-a vazia e depois
pegou uma pipoca e vai comendo tranquilamente. Ele olhou fixamente
para Pedrinho, coloca a mão no bolso direito e tira uma nota de
Vinte Reais. E falou:
-
Pensando bem: tome esse dinheiro e deixe outras garrafas de água
mineral, não precisa me devolver o troco.
O
homem vai escorrer a água da chuva que estava acumulada em cima da
lona e continua falando:
-
Jovem, você gosta de Parque de Diversão? Sou dono do Parque,
Criança Feliz, que ficará aberto ao público de sexta-feira a
domingo, dessa semana, no horário das 08h00 às 21h00 em um
acampamento aqui perto. E como cortesia, pela sua gentileza e pureza
de coração, deixarei entrada franca para você e um acompanhante no
domingo. Traga um amiguinho e venha se divertir conosco. E só me
procurar! Pedrinho ficou aos prantos, pois não conseguia conter as
lágrimas de felicidade que escorriam pela sua face. Era tudo que ele
mais queria. Ser uma criança de verdade. Ele retornou para casa mais
cedo, pois lembrou-se que sua mãe não estava muito bem. Ele voltou
correndo pela entrada de barro encharcada pela chuva e, entrou no
barraco gritando:
-
Oh mamãe, onde está a senhora?
-
Estou aqui, meu querido! O que houve? Disse-lhe sua mãe.
-
Encontrei um homem que vai deixar eu brincar, com um acompanhante, no
Parque de diversão dele. Responde-lhe Pedrinho sorridente.
Sua
mãe observa a felicidade estampada no rosto do filho, ela fica
surpresa, pois o menino dificilmente sorria. Ela tenta incentivar o
garoto, mandando-o procurar o filho da vizinha para acompanhá-lo.
Pedrinho vai falar com Miguel, o filho mais novo de Dona Marta, que
facilmente aceita o convite...
Chegou
o domingo, o dia do passeio ao Parque de Diversão. Pedrinho e Miguel
saíram cedo, pois grande seria a caminhada até o local onde o
Parque estava armado. A mãe de Miguel irá acompanhá-los até a
entrada do Parque... O sol estava radiante, brancas nuvens passeavam
ao léu como se estivessem seguindo os garotos por todo trajeto. Os
olhos dos meninos brilhavam de tanta felicidade, quando eles
avistaram o Parque. Estava tudo colorido, bandeirinhas com
tonalidades diferentes enfeitavam a entrada principal. Os garotos
ficaram parados em frente ao portão de acesso, fascinados pelo
cenário, um mundo de pura magia e diversão. O silêncio foi
quebrado, pela voz de um senhor chamando os garotos:
-
Meninos, podem entrar! Venham rápido até aqui.
Era
o mesmo homem, que prometeu a Pedrinho um dia de diversão, o dono
daquele Parque. Pedrinho e Miguel foram marcados em cima da mão
direita. O homem continuou falando:
-
Garotos, com essa marca de carimbo, vocês terão passagem livre e
poderão brincar em qualquer brinquedo e comer qualquer tipo de
guloseimas que quiserem, pois tudo faz parte do pacote de cortesia. O
Parque parecia simples aos olhos de qualquer outra pessoa, mas para
Pedrinho e seu amiguinho era um sonho de criança. Era pura animação!
Os meninos não sabiam para onde olhar. Eles queriam brincar em todos
os brinquedos: Queriam correr na Roda Gigante, girar no Carrossel,
andar na Barca, no Trem Fantasma, assistir ao espetáculo da Monga
(mulher que vira gorila), entre outros... Eles corriam de um canto a
outro aproveitando a grandiosidade do cenário. Logo, pararam em
frente a barraca de Tiro ao Alvo e, Pedrinho conseguiu acertar um
ursinho de pelúcia, ficando muito feliz. Primeiro, eles decidiram
andar na Roda Gigante e, a cada subida e descida, que ela girava,
eles gritavam bem alto: “Ah, que frio na barriga!” e, ficaram,
assim, contemplando do alto todo cenário. Depois foram andar no Trem
Fantasma; Pedrinho estava com medo a cada volta que o trem dava, ele
agarrava de um lado a mão de Miguel e do outro apertava bem forte o
ursinho. Era hora de andar no Carrossel, de galoparem suspensos no
ar, com luzes que piscavam e iluminavam as faces rosadas dos meninos.
Os garotos foram ao delírio na hora da Montanha-Russa, a cada subida
o medo das alturas, a cada descida o medo da queda e a cada curva a
incerteza do caminho a percorrer, porém o importante era o desafio.
Pedrinho ficou pensativo por um minuto: “É muita felicidade para
um único dia!” Miguel despertou-o de seu sonho e foram saborear:
Cachorro-quente, pipoca caramelada, sorvete de chocolate e algodão
doce colorido. Era tudo mágico e fascinante. Os garotos se sentiam
realmente crianças!
Já
era noite quando o dono do circo anuncia pelo microfone: “O Parque
de Diversão já vai fechar, aproveitem os últimos instantes.”
Pedrinho
e Miguel já cansados se dirigiram ao portão de saída, onde a mãe
de Miguel esperava-os. Logo, as luzes se apagaram e, até os
brinquedos foram dormir. Eles voltam realizados para casa.
Como
é gostoso ser criança!
Elisabete
Leite – 24/06/2018
A verdadeira Monga
Com o corpo coberto de pelos, a mexicana Julia Pastrana
estrelou freak shows, virou múmia e inspirou uma das atrações mais populares
dos parques de diversão

“Monga, a Mulher-Macaco” é atração tradicional até mesmo nos
parques mais chinfrins que correm o país. Tudo ilusão, claro. Mas o jogo de
espelhos que garante a transformação de uma garota em um macaco gigante (alguém
dentro de uma fantasia quase sempre bem gasta) nasceu de uma história real: a
da mexicana Julia Pastrana. Nascida em 1834, Julia desenvolveu uma forma severa
de hipertricose, doença raríssima que atinge uma em cada 300 milhões de
pessoas, deixando o corpo coberto de pelos pretos. Também não ajudou muito o
fato de Julia ter orelhas grandes, gengivas inchadas e mandíbulas estranhas –
na época, chegaram a cogitar que ela teria duas fileiras de dentes, mas
recentes exames de raios X na arcada dentária de seu corpo mumificado (calma, a
gente chega lá) comprovaram que sua dentição era normal. Coloque essa aparência
bizarra sob os cuidados de um homem explorador e você terá, na pior acepção da
expressão, um show de horror. Descoberta pelo comerciante Theodor Lent (que
depois se casaria com ela), Julia passou a ser exibida em freak shows, as
caravanas de mulheres barbadas, pessoas deformadas e coisas estranhas que
viajavam pela Europa e pelos EUA entre a 2a metade do século 19 e a 1a do 20.
Tinha 20 anos quando estrelou seu primeiro espetáculo, A Incrível Híbrida ou
Mulher-Urso. No show, além de dar o ar de sua graça, Julia dançava e cantava –
tinha uma voz bonita, dizem.
A grossa pelagem escondia uma moça educada e inteligente –
Julia falava espanhol e inglês, adorava cozinhar e costurar. Morreu aos 26 anos,
de complicações no parto, depois de dar à luz um filho que sofria de
hipertricose (e que morreu 3 dias depois de nascer). Nem isso preocupou Lent: o
empresário mandou mumificar os dois cadáveres e continuou a exibi-los até sua
morte, em 1880. As múmias reapareceram em 1921 nas mãos de Haakon Lund, um
showman norueguês que viajou com os cadáveres por duas décadas. Hoje, Julia e o
filho descansam no Instituto Forense de Oslo, longe do público apavorado dos
parques de diversão.
• Julia Pastrana foi citada até por Charles Darwin. O
naturalista usou o exemplo da moça para investigar o excesso de pelos e dentes
em mamíferos.
• Depois da morte de Julia, seu marido encontrou outra mulher
com as mesmas características e se casou com ela! Antes de ser internado em um
hospício, ele começou a dizer que as duas eram a mesma pessoa.
• Quando os nazistas invadiram a Noruega, o “dono” da múmia
de Julia convenceu os alemães a mostrar o cadáver no território ocupado. Os
lucros da turnê foram revertidos ao 3º Reich.
Por Paulo Terron
31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 dez 2007, 22h00
Uma página sensacional, imagens ilustrativas que completam e enriquecem o tema abordado em meu conto. A narrativa é emocionante, que transforma em realidade um "SONHO DE CRIANÇA"... muito feliz, lisonjeada e agradecida. A nota informativa de rodapé é surpreendente. Amei conhecer a verdadeira história da "MONGA", um espetáculo que tantas vezes prestigiei em, Maceió, nos pequenos Parques, armados nas festas de finais de ano. Obrigada, Jorge querido, pela oportunidade de mostrar ao leitor, meu trabalho. Tudo perfeito! Abraços e bom domingo a todos
ResponderExcluirBelíssimo e emocionante Conto, uma narrativa incrível, que prende o leitor do início ao fim, apropriado para todas as idades... Sonho de Criança é uma história cotidiana, onde crianças ainda precisam trabalhar, eles perdem uma história de vida. Realmente a narrativa é forte, com um final feliz. As imagens ilustrativas completam o tema e tornam o ambiente mágico. A nota de rodapé é bem informativa e excelente no contexto. Parabéns a poetisa e contista Elisabete Leite e também ao amigo poeta Jorge pelo sucesso do blog. Bom domingo a todos! Muito bom se criança!
ResponderExcluirEu nunca fui a um circo. Um sonho de criança que eu adormeci. Vibrei com essa história vivida por Pedrinho, por que me coloquei no lugar dele e imaginei a emoção que eu poderia sentir. Mas vivi outros sonhos igualmente emocionantes. Cabra-cega, barra-bandeira, bolas de gude, pipas... momentos mágicos, que não voltam mais. Só saudade! Parabéns a Bete pela história linda. Parabéns, meu rei, pelas ilustrações. Por tudo, enfim. Até breve. Bjo
ResponderExcluirExcelente seu Conto poetisa! O seu Universo imaginário como contista é vasto e muito rico, sua facilidade de construir uma narrativa emocionante é notável. Fico só viajante nesses momentos literários. O clímax prende e envolve totalmente o leitor neste desfecho surpreendente. Gosto muito de interagir neste blog, pois o trabalho em equipe muito ensina. Parabéns pelas belas e expressivas imagens e a iniciativa da nota de rodapé traz conhecimento para os leitores. Finalmente, desejo parabenizar a todos e para minha amiga Elisabete Leite sucesso sempre! Abraços
ResponderExcluirMais uma vez, meus parabéns aos irmãos Leite (Elisabete e Jorge) e aos demais amigos que participam direta e indiretamente do perceptível progresso deste blog! Obrigado, poetisa/contista Elisabete Leite, por ter conseguido a façanha de, através de seu conto, nos levar, por alguns instantes, de volta ao nosso tempo de infância, dos saudosos momentos em que desfrutávamos as alegrias proporcionadas pelos parques de diversão infantis. Abraços pra todos vocês!
ResponderExcluirMaravilha de conto!maravilha ser criança,maravilha ter o poder de sonhar!maravilha em seu destino, se deparar com uma criatura de grande bondade,fazendo realizar seus sonhos! Maravilha mais ainda,você ter imaginação soberba, muito valiosa! Parabéns.
ResponderExcluirUm luxo de página da minha querida amiga Elisabete Leite! Um conto muito lindo com uma narrativa emocionante, quem enquanto criança, não teve um sonho mágico. Um contidiano de vida que ainda acontece em qualquer lugar. História, assim, existem realmente. Um conto apropriado para qualquer faixa etária. Concordo com o poeta Waldeck, o blog vestiu-se com um roupagem rica em conteúdo, que faz muito sucesso. As ilustrações deram um toque especial a página. E a nota de rodapé, como sempre, bastante informativa. Parabéns a todos. Um feliz domingo!
ResponderExcluirEita que beleza de página. Um conto incrível, muito emocionante, com uma história de vida comovente narrada com muito sentimento pela poetisa amiga Elisabete Leite. Muito bom viajar nesta narrativa onde um SONHO DE CRIANÇA é realizável. As imagens ilustrativas deram um colorido especial ao tema abordado. A nota informativa de rodapé é realmente interessante. Show de página. Parabéns aos poetas Bete pelo belíssimo Conto e o amigo Jorge Leite pelo conjunto. Abraços
ResponderExcluirBom dia! Aproveito o desjejum matinal para fazer uma excelente leitura e assim, venho prestigiar minha querida amiga poetisa. Seu Conto, Elisabete Leite, é belíssimo muita ação e sentimento geram uma narrativa emocionante. A história do garoto Pedrinho é o cotidiano de vida de muitos brasileiros. Li e reli o texto e percebi a riqueza do vocabulário, o leitor retorna ao passado e a criança flui de dentro da gente. Também envolve os leitores mirins na magia dos acontecimentos, no colorido de ser criança. As idades se cruzam, sendo apropriado para toda faixa etária. As ilustrações deram um show a parte e a nota de rodapé é bem informativa. Bom conhecer a história ou estória da Monga. Parabéns pelo sucesso da página. Aplausos aos irmãos Leite. Saudades de todos. E viva o Brasil!
ResponderExcluirGostei de tudo! Do conto, das imagens ilustrativas, da história da Monga e da página do blog. Fiquei deslumbrada com a belíssima e emocionante história de Pedrinho, simplesmente perfeita. Parabéns aos amigos poetas Elisabete e Jorge Leite. Abraços a todos! É Brasil!
ResponderExcluirQuero agradecer a todos pelas ilustres visitas e gentis comentários. Para mim é gratificante ser reconhecida em meu trabalho, fico lisonjeada e muito feliz. Abraços de carinho...
ResponderExcluirBelíssimo conto que retrata a história de um garoto triste que precisava trabalhar para ajudar a máe doente. Uma narrativa comovente, que mais uma vez a contista, Elisabete Leite, faz todo esforço para envolver e emocionar o leitor e consegue a façanha com muito talento. As imagens impecáveis nos transportam ao passado. Já a nota de rodapé completa o tema, com a verdadeira história da MONGA. Agora é só aplaudir... parabéns aos poetas pelo incrível sucesso do blog. Excelente dia a todos! Abraços
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