METAMORFOSE
(José Waldeck)
NÃO (você me diz)
NAU (em mar revolto)
MAU
(é quem maldiz)
MAR (perigo envolto)
DAR
(o meu amor)
PAR
(forme comigo)
POR (com destemor)
DOR
(eu te fustigo)
DOM (de aguerrir)
BOM
(o que vier)
SOM
(bom: é te ouvir)
SIM (você me quer)
Insisto em crer
que
TUDO
pode acontecer.
De letra em letra
uma palavra se altera.
Verso após verso
é o meu modo de espera.
Espera
e determinação
que não terão fim
até ver
se transformar
o seu
“NÃO!”
em
“SIM!”.
Obs.:
Na estrofe inicial a palavra NÃO foi transformada na palavra SIM,
trocando-se uma letra de cada vez. Esta brincadeira com palavras (que existe,
de fato) foi o ponto de partida para compor este poema onde me propus a provar
a alguém que, pelo menos na teoria, era possível a sua negação (rejeição)
inicial ser revertida para uma aceitação.
FALO
(José Waldeck)
Pretendendo que ela
escute,
eu falo.
Me expresso em alto
e bom som
e com latente prazer.
Se meu som não
repercute,
ao menos me
desentalo,
pois desse jeito
propalo
aquilo que tenho a
dizer.
Eu não falo só de
boca,
com a boca que quer
seu batom,
cuja voz torna-se
rouca.
Mas ela é cabeça
oca,
faz até papel de
mouca
e eu desperdiço
esse dom.
Então, falo com os
olhos,
que ficam até zarolhos.
Falo pelos
cotovelos.
Falo por gestos,
com as mãos
que deslizam em
seus cabelos.
Mudo a estratégia e
os apelos,
transformo em sins
seus nãos.
Tenho um humor que
se alterna
– ora estou bravo,
ora manso.
Ante peleja tão
terna,
quando a voz clama
descanso,
dou uma trégua, me
calo.
Nessas horas de
sussurros,
gemidos, suspiros,
urros,
meu porta-voz é meu
falo.
PRISMA
(SÃO SEUS OLHOS...)
(José Waldeck)
Não!
O céu não está tão
azul.
O ar não está nada
puro.
O mar não está pra
peixe.
O mundo não tá tão seguro.
A ética, os bons
costumes
e a moral não estão
em alta.
(Porém, você crê no
futuro.)
São seus olhos...
Não!
Eu não tenho tantas
virtudes
e tampouco escrevo
bem.
Nem tudo o que digo
é verdade.
Nem falo o que lhe convém.
Não sou um sujeito
exemplar
e nem esbanjo simpatia.
(Contudo, você diz
“amém!”)
São seus olhos...
Sim!
Há dois astros
luminosos
a cintilar noite e
dia;
Vesgo e cativante
charme
que irradia
alegria.
Há “sex appeal”, há
“frisson”,
e tudo o que há de
bom
neste mar de
euforia.
São seus olhos.
(José Waldeck)
Urbe: organismo vivo,
um corpo em crescimento,
incessante movimento,
incansavelmente ativo.
Suas artérias pulsantes:
Ruas, becos, avenidas,
por onde trafegam vidas –
nutrientes importantes.
Têm nome seus logradouros,
nomes em placas escritos,
orgulhos imorredouros.
Pública e viva história.
Saltam das placas gritos
que reivindicam memória.
JURO
(José Waldeck)
Ah! Esse amor...
Nascituro,
há de ser,
com razão,
a paixão
que procuro.
E se for,
sem pudor,
com determinação
e afoiteza,
com certeza,
eu me aventuro.
Pulo cerca,
encosto na parede
e não mais vou
ficar
em cima do muro.
Daí, então,
me corrijo
e até me regenero
e me apuro.
Largo mão
desse jeito de ser:
inseguro, indeciso,
imaturo.
Ah, por você...
não seria um salto
no escuro.
E, com sofreguidão,
já, agora,
velhos dados eu
reconfiguro
faço uma
repaginação,
atualizo o arcaico
sistema
que ainda roda,
opera e vigora
nesse meu obscuro
e facínora
cauteloso coração.
Notas de Rodapé
A expressividade do Preto e Branco
Quando a Fotografia surgiu oficialmente, em 1826, a imagem
captada pela câmara obscura de Niépce era em tons de cinza. Hoje, praticamente
dois séculos depois do feito, a fotografia em preto e branco ainda está em
auge. Da heliografia (“gravura com a luz do sol”, o processo de Niépce) ao
digital, a elegância e o charme do estilo prevaleceram a uma série de evoluções
técnicas.
Na Fotografia, as cores têm o poder de trabalhar com as emoções
do observador. Consciente ou inconscientemente, a composição cromática
influencia em como alguém define a imagem – positiva ou negativamente. Em preto
e branco, como não existem cores além dos tons presentes na escala de cinza,
essa teoria funciona com o preto, o branco e o cinza. Estudando separadamente
cada um deles, identificamos as sensações e as associamos às nossas memórias.
O preto é a cor do absolutismo, do poder; na Fotografia,
funciona da mesma maneira que na Moda, concedendo elegância e superioridade. O
branco transmite o oposto, tornando-se a personificação de pureza e delicadeza
e ampliando os sentidos de espaço e percepção. Cinza, a cor mais presente em
toda a imagem monocromática (ironicamente chamada de “preto e branco”),
representa a estabilidade e o equilíbrio.
Uma fotografia em escala de cinza pode conter várias
justificativas. Alguns fotógrafos preferem utilizar os recursos monocromáticos
para deixar a imagem naturalmente mais expressiva. Num retrato, sem a atenção
voltada às cores, a observação se concentra na expressão de quem é retratado.
Em qualquer imagem, contraste é a alma da interpretação,
seja ele acentuado ou não. E na fotografia em preto e branco, o assunto é ainda
mais importante. O contraste é o efeito visual que a iluminação produz sobre o
objeto. É a famosa diferença entre a luz e a sombra, onde as áreas claras são
chamadas “altas-luzes” e as escuras “baixas-luzes”. Alterá-lo significa
aumentar ou diminuir a intensidade da diferença entre as altas e as baixas
luzes. Na fotografia monocromática essa é a característica mais importante e,
por isso, é preciso entender como domar a iluminação.
Como fotógrafo, é possível controlar os efeitos do contraste
de cena através de alterações físicas no esquema de iluminação. Ao mover a
fonte de luz para mais perto do assunto, por exemplo, aumenta-se o contraste.
Posicionando-a lateralmente, o efeito se destaca ainda mais. Além de truques
como esses, uma série de equipamentos podem ser utilizados, como rebatedores e
difusores.
De fato, a fotografia em preto e branco é uma explosão de
sentimentos. Expressiva e forte com seus contrastes, encanta os fotógrafos por
abrir a posição de mistério quanto às reais cores que fizeram parte do clique.
É psicologicamente inquestionável e imensuravelmente encantadora e envolvente.
Nicéphore-Niépce (1765-1833)
O francês Joseph Nicéphore Niépce é o autor da
imagem fotográfica mais antiga que conhecemos, feita em 1826 ou 1827 sobre uma
placa de estanho sensibilizada com sais deprata.
Nascido
em 1765 em França, no seio de uma abastada família, dedicou grande parte da sua
vida à tentativa de captação de imagens que pudessem ser utilizadas na
Litografia.
Iniciou
um processo, a que chamou Heliografia (escrito pelo sol) em 1793, mas
rapidamente essas imagens desapareciam. Com 40 anos abandonou o exército
francês para se dedicar exclusivamente a inventos técnicos, graças à fortuna
que a sua família possuía.
Em 1826
consegue pela primeira vez fixar de forma permanente uma imagem, utilizando uma
placa de estanho que cobriu com Betume branco da Judeia.
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Foto mais antiga tirada por Niépce, por volta de 1826. |
Este
material tinha a propriedade de endurecer ao ser exposto à luz solar, depois de
exposto durante oito horas retirou as partes não solarizadas com uma solução à
base de essência de alfazema.
Naturalmente
obteve uma imagem em que a ausência de meios-tons era notória, não servindo
assim ao seu propósito de obter imagens que pudessem ser utilizadas em
litografia, o que motivou nele uma ainda maior motivação no aperfeiçoamento do
seu processo.
Certamente
não teve a noção que ao fixar essa imagem da vista do sótão da sua casa de
campo, criou aquela que é considerada a primeira fotografia que conhecemos.
Pixabay - Fotografia em Preto e Branco
Um momento poético de mestre, lindas e sentidas poesias do amigo poeta José Waldeck, que faz muita falta por aqui. Sua arte é pura magia, ele brinca com as palavras, em um jogo poético de elite. As ilustrações estão impecáveis e completa perfeitamente as temáticas. A pesquisa presente nas Notas de Rodapé são bem informativas, estou sempre aprendendo neste cantinho do saber. Ótimo sentir seus poemas por perto Waldeck, eles embelezam as páginas do blog. Parabéns ao poeta e ao ilustrador. Bom domingo a todos! Abraços... tudo lindo!
ResponderExcluirÉ maravilhoso ter como amiga alguém tão sensível e observadora como você, querida conterrânea Elisabete Leite! E, igualmente, é um luxo só desfrutar da atenção e da imensurável camaradagem do valoroso Jorge Leite. Muito grato, de coração, meus abnegados e queridos amigos poetas Elisabete e Jorge Leite!
ExcluirEita cara, que página mais linda! Uma tarde de domingo com o mestre Alagoano Jose Waldeck e seus lindos e criativos poemas... uma programação de pura arte poética. As imagens ilustrativas compartilhadas pelo amigo poeta Jorge Leite são pertinentes e completam perfeitamente os temas abordados. A pesquisa é informativa e muito nos ensina. Parabéns a todos pela arte final. Abraços e excelente entardecer! Estamos sentindo falta dos seus poemas e comentários amigo Waldeck. Volte sempre!
ResponderExcluirUm grande abraço, caríssimo amigo Paulo! Muito obrigado pelo carinho, Mestre!
ExcluirUma maravilhosa página, sāo lindos e criativos poemas do amigo poeta José Waldeck, que já estava fazendo falta aqui no blog. As ilustrações estão perfeitas e completam o tema. O poeta Jorge Leite está de parabéns pela arte final e pesquisa. Amei o cenário! Aplausos e apareça poeta Waldeck. Abraços
ResponderExcluirMuito agradecido, querida Geovanna! Feliz Outubro, minha amiga!
ExcluirDe fato, fazia tempo que eu não lia poemas de José Waldeck, mas hoje ele veio pra valer, com poesias maravilhosas, atingindo a alma da gente. Parabéns, Waldeck. Seus poemas são lindos, que junto com a arte final do mestre, ficaram mais belos ainda. Você merece o carinho e elogios de todos. Até breve!
ResponderExcluirOlá, prezada Socorro Almeida! Fico muito contente em saber que você gostou dos meus singelos poemas, amiga. Muito obrigado por seu comentário inspirador! Um grande abraço!
ExcluirSão belíssimos poemas do amigo poeta José Waldeck que sabe emocionar com sua arte criativa que estava fazendo muita falta neste blog. As ilustrações estão dignas de aplausos, o poeta Jorge merece muitos elogios. Uma excelente pesquisa. Parabéns a todos e abraços!
ResponderExcluirSou sempre muito agradecido pela sua amizade, Maciel! Muito obrigado! E salve Jorge "Midas" Leite, o nosso poeta-pesquisador-editor que enriquece e valoriza tudo o que é publicado neste admirável blog.
ExcluirHoje dia cansativo na Academia, mas não posso deixar de visitar esse cantinho de mestres. Sr. Waldeck, aplausos pra todos os seus poemas, mas "FALO" me tocou muito mais! Encantada com sua forma de escrever! Adorei! Até mais, se Deus quiser!
ResponderExcluirEm tempo: parabéns aos mestres do blog pela arte final maravilhosa!
ExcluirÉ uma honra poder contar com o seu apreço e a sua consideração, mestre Cândida Nunes! A você, minha gratidão e o meu carinho! Até breve, sim! Queira Deus!
ExcluirEssa frase livre (São seus olhos) no final de cada estrofe ficou muito interessante, dando um toque bastante peculiar ao seu poema PRISMA. Não sou poetisa, sou apenas apreciadora da arte, mas me emociono ao ler poesias belas como essas. Se eu tivesse mais tempo, estaria sempre por aqui. Parabéns a todos
ResponderExcluirMetamorfose!!! Belíssimo!!! Eu sou amante de tudo o que é diferente, onde a simplicidade impera com criatividade e beleza! Assim como admiradora também da capacidade de se transformar, como as borboletas, do simplório à magnitude, nas cores e nas poesias!
ResponderExcluirPARABÉNS, sr. Waldeck. Adorei!
À propósito: sou uma velha amiga da Socorro Almeida
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