Ano II - Edição Nº 375 - Cantinho da Tia Beta
Tema das Imagens - "Picnic" e Estação de Trem
UM PIQUENIQUE NA CIDADE NATAL
Era uma manhã primaveril, o sol
despertava radiante, e mostrava seus raios exuberantes de um brilho nunca visto
antes... José acordou bem cedinho e foi terminar de arrumar seus pertences,
pois o garoto iria passar o final de semana na casa dos seus avós, na cidadezinha
interiorana que o viu nascer. O menino comeu o seu desjejum matinal e foi
conversar com sua mãe que já o esperava, para passar-lhe as últimas instruções.
José iria viajar sozinho de trem até à estação onde os avós moravam. Ele entrou
na sala de estar e quebrou o silêncio:
- Bom dia, mamãe Eugênia! Eu estou muito
feliz, pois logo mais estarei na minha cidade natal. Não precisa passar um
sermão, pois eu já tenho 10 anos e sei cuidar de mim.
A mãe de José olhou firmemente para
ele e falou:
- Bom dia, meu querido filho! Só eu
sei o quanto você é valioso para nós. Seu pai está na lida e eu preciso cuidar
dos animais diariamente. Portanto, escute o que tenho para dizer-lhe: você irá
viajar sozinho, tome muito cuidado na viagem e aproveite para interagir com
seus avós maternos, pois eles zelarão por você em nossa ausência.
O garoto deu um beijo no rosto da mãe
e saiu correndo para apanhar a única condução que o levaria até à estação de
trem...
José olhava todo cenário pela janela do
trem, seus olhos percorriam do verdejante campo até os altos montes, as brancas
nuvens viajavam ao léu e destacavam-se no azul do céu; por lá o aroma era de
poeira e mato. De repente, o menino avista a pequena cidade onde nascera. Seus
olhinhos brilhantes se encheram de lágrimas, pois ele tinha saudade dos seus
avós. Logo, ele viu o avô encostado à velha pilastra da estação municipal. Pela
janela ele acenou e salpicou um beijo para o velho Januário, que retribuiu com
um largo sorriso. O trem deu um apito longo e estacionou bem em frente ao avô
do garoto, que correu ao seu encontro. O menino José abraçou o avô e foi logo
perguntando pela sua avó:
- Que saudade, vovô Januário! Sinto
muita falta de vocês, que às vezes chego a chorar de tanta emoção. Vovozinho,
como vai à vovó Versulina?
O avô acariciou o rosto de José e
respondeu-lhe em seguida:
- Sabe José, Versulina ficou fazendo
uma deliciosa torta de morango para você e uma galinha de capoeira guisada, que
somente ela consegue deixar com um gosto todo especial, para a gente almoçar.
Vamos para casa, meu netinho?
Os dois foram caminhando de mãos
dadas, e logo começou a cair uma garoa fina, refrescando assim, os rostos
suados do avô e do neto, que mudaram o roteiro, apressaram os passos e seguiram
pela estrada de barro, para encurtar o caminho até o sítio... Meia hora depois
eles chegaram ao local de destino, o velho sítio da família Solimões, que
ficava um pouquinho afastado da cidade... Após os abraços carinhosos da avó, um
almoço reforçado e uma sobremesa deliciosa; era hora de José fazer um
reconhecimento pelas redondezas e matar a saudade da sua cidade natal. O cenário estava magnífico: havia diferentes
espécies de pássaros a gorjear, o clima estava ameno e ele teria toda tarde
para se divertir e se emocionar. Logo, ele resolveu subir na parte mais alta daquela
simples propriedade para apreciar àquela cidade que tanto amava, de todos os
ângulos; só de cima ele conseguiria contemplar a exuberante arquitetura
colonial da praça do coreto, onde tantos concertos musicais passaram por lá. A
emoção era tanta que José nem se deu conta do adiantar das horas, já era quase
noite, o sol foi se despedindo e dando passagem a um magnificente luar. Nesse
clima formidável, o dócil José, deitou-se na relva verdejante e ficou
observando as estrelas que brincavam de esconde-esconde por toda extensão do
céu. De repente, ele escutou um grito forte, olhou para todos os lados, pois
procurava descobrir a direção do pedido de socorro. E assim, foi seguindo a
cadência do som, e logo avistou um buraco do outro lado da cerca, provavelmente
em outra propriedade. Afastou, com muito
cuidado, os arames farpados, adentrando em um local desconhecido, que ele não
sabia da procedência. Aproximou-se devagar e observou que no fundo do buraco estava
uma pessoa desmaiada. Ele não pensou duas vezes, e por puro instinto pulou para
socorrer quem precisava; imediatamente a lua contribuiu e o auxiliou,
iluminando todo ambiente. Somente assim, foi que José identificou uma jovem
garota. Aproximou-se dela e procurou comunicar-se com a mesma:
- Menina acorde, por favor! Você
está machucada? Precisamos sair daqui!
A garota perplexa despertou do
desmaio, pôs-se a chorar e começou a bombardear José com diferentes perguntas:
- Como eu pude cair aqui? Quem é
você? Por que veio me ajudar? Quero sair daqui e ir embora, agora!
José sentou-se mais perto da menina e
foi respondendo a enxurrada de perguntas dela:
- Vou procurar responder uma pergunta
de cada vez mocinha! Sou José, ouvi uma pessoa gritando, corri para ajudar e te
encontrei caiada aqui dentro. Agora é a sua vez de responder as minhas
indagações! Quem é você? Como você veio parar dentro desse buraco? E graças a
Deus que a senhorita não está machucada.
- Eu sou Maria Alice, estava caminhando
distraída quando avistei um ninho de João-de-barro, e tentei subir na árvore
para olhar de perto, porém não sei como, cai nesse buraco.
José escalou o buraco e ajudou a
menina Alice a sair daquele local. Ela muito agradecida o convidou para um piquenique
no rio, no outro dia após o almoço. Eles se despediram, e cada um foi para sua
casa... José jantou e ficou deitado na rede escutando os causos engraçados que
o seu avô contava; o garoto sorria e chorava ao mesmo tempo. A lua se deitou, o
sol resplandeceu e um novo dia amanheceu...
Era uma bela tarde, apropriada para um
piquenique no rio, Maria Alice e José se encontraram no local combinado, às
margens de um lindo riacho. O clima estava muito agradável e contribuía para
aquele tão esperado momento. A menina Alice ficou encarregada de encontrar um
local adequado para eles ficarem. Assim que o encontrou, estendeu uma toalha de
mesa quadriculada no chão e lá colocou a cesta com as frutas, sucos e lanches
saudáveis. Os dois ficaram conversando sem parar, falavam sobre as escolas
deles, a família de cada um, os avós queridos, a cidade onde nasceram, e tantas
outras coisas. José estava radiante de felicidade, aquele momento era único
para ele, ter a chance de voltar à cidade natal e conquistar uma nova amiga,
era tudo que ele mais queria na vida. Chegou a hora do lanche. Alice retirou da
cesta dois sanduíches de frango e uma pequena jarra com suco de laranja. Os
dois se sentaram sobre a toalha e começaram a comer. A garota falou para José
que morava com os pais em um vilarejo próximo dali. Enquanto, José explicava
para a sua nova amiga que no outro dia já voltaria para casa, pois ele estava
passando um final de semana com os avós. O silêncio permaneceu entre eles.
Então, José resolveu quebrar o gelo:
- Alice, vamos tomar banho de rio?
Devemos aproveitar cada minuto juntos. Amanhã será um novo dia, e eu te prometo
que voltarei nas férias.
A menina olhou fixamente para José e
respondeu-lhe com um lindo sorriso estampado no rosto.
- Sim, vamos aproveitar cada segundo!
Venha me pegar se tiver coragem e disposição para correr!
Os dois caiaram nas águas límpidas
daquele ribeirão e brincaram de pega-congela até o anoitecer. Quando a noite
desceu, eles limparam todo local, recolheram os pertences, se despediram e cada
um tomou uma direção diferente...
Logo cedinho, o garoto já estava
esperando o momento de voltar para casa. Sua avó Versulina colocou um lanche
nutritivo na mochila dele, e seu avô Januário foi deixar José na estação de
trem. O trem partiu e o coração do garoto estava apertado, pela janela da
locomotiva ele olhava a sua cidadezinha natal se distanciando dele cada vez
mais. De repente, quando o trem fez uma leve curva o menino avistou Maria Alice
em cima do telhado da casa dela acenando para ele. José retribuiu, enviando-lhe
um beijo. Somente restava o som do apito da locomotiva que carregava, em seus
vagões vazios, as doces lembranças de José e a saudade da sua terra natal...
Piui! Piui! Piuiii!...
O tempo passou depressa e José sempre
voltava à cidade natal para rever os avós e sua amiga Maria Alice.
Assim, foi UM PIQUENIQUE NA CIDADE NATAL...
Até a próxima historinha amiguinhos!
Elisabete Leite – 21\10\2019
CANTINHO DA TIA BETA
Olá pessoal! Hoje, vamos
conhecer um pouco mais sobre o magnífico pássaro João-de-barro - Lendas e Mitos.
Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro
joão-de-barro.
Segundo a lenda, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um
jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Jaebé, o moço, foi pedi-la em
casamento.
O pai dela então perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa
da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem Jaebé.
O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido, então disse:
- O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e
morreu no quarto dia.
- Pois eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda
a tribo se admirou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se
desse início à prova. Então, enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e
ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A
jovem apaixonada chorava e implorava à deusa Lua que o mantivesse vivo. O tempo
foi passando e certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
E
o velho respondeu:
- Ele é arrogante, falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
Esperou
então até a última hora do novo dia, então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando
abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilharam, seu
sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e tinha cheiro de perfume
de amêndoas. Todos se admiraram e ficaram mais admirados ainda quando o jovem,
ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos
poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E
foi naquele exato momento que os raios do luar tocaram a jovem apaixonada,
que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás
de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceram para sempre.
Podemos
constatar a prova do grande amor que uniu esses dois jovens no cuidado com que
o joão-de-barro constrói sua casa e protege os filhotes. Os homens admiram o
pássaro joão-de-barro porque se lembram da força de Jaebé, uma força que nasceu
do amor e foi maior que a morte.
Nossas
Pesquisas:
Pergunte à Tia Beta
Tia Beta, como se escreve: Piquenique, pique-nique, picnic ou pic-nic?
Oi pessoal, vou responder transcrevendo um artigo da Professora Flávia Neves. Prestem atenção:
A
forma correta de escrita da palavra é
piquenique. A palavra
pique-nique é forma original da palavra em francês e a palavra
picnic é forma original da palavra em inglês. A palavra pic-nic, hifenizada, não existe.
Um
piquenique é uma refeição partilhada em que todos contribuem com comida
e bebida, sendo geralmente comida no chão, por cima de uma toalha
estendida no campo, na praia, em parques ou jardins.
Exemplos com piquenique
- Vou levar quibes para o piquenique da empresa.
- Vamos combinar um piquenique no fim de semana que vem?
- Adoro fazer piqueniques e passar o dia em contato com a natureza.
Piquenique: estrangeirismo
Piquenique é um estrangeirismo. Tem sua origem na palavra francesa
pique-nique.
Em alguns estrangeirismos utilizamos a palavra na sua forma original:
- show;
- fast-food;
- lingerie;
- marketing;
- shopping;
- …
Em outros utilizamos a forma aportuguesada da palavra:
- batom;
- abajur;
- turnê;
- estresse;
- uísque;
- …
No caso em questão, a palavra
pique-nique foi aportuguesada para piquenique com base nas regras ortográficas e fonológicas da língua portuguesa:
- piquenique romântico;
- piquenique no parque;
- piquenique na praia;
- piquenique no jardim;
- piquenique de aniversário;
- ...
Espero que tenham gostado. Tem dúvida? Perguntem a Tia Beta.
Professora
de português, revisora e lexicógrafa nascida no Rio de Janeiro e
licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal
(2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.