Tema das Imagens - H.R. Giger
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H.R. Giger, Necronom IV, 1976. Courtesy of the H.R. Giger Museum. |
A CAVERNA I (Clausura)
Me sinto perdido, em meio à insanidade
Um tanto aturdido, por essa loucura
Dum povo iludido, tateando às escuras
Preso e reprimido, pela própria maldade
Segue a massa cega, em disparidades
Só a sombra enxerga, nada mais procura
A sua mente emprega, em ideias obscuras
Que ao Amor nega, e obstrui a Verdade
Soubessem, ó humanos, a própria realidade
Que além de seus planos, no Cosmo perdura
Reparariam os danos, da vaidade e da usura
Veriam esses cemitérios, que vós chamais “cidade”
Cada prédio um necrotério, cada cômodo, sepultura
Rezariam um só mistério: Glória a Deus nas Alturas!
Yogaliastro por Zé Camargo
Experto se pensa o rato, se esgueirando no quintal
Mas perto, sem ofensa ao fato, sua pele e carne suja
Estará, ao certo, na unha do gato ou no bico da coruja
Aberto à alcunha, destino nato: “mico do reino animal”
Assim, todo aquele que causa dano, pratica o mal
No fim será ele, seja bicho ou humano, só a escória
Do mais baixo dos carniceiros, no porão da história
Na contramão da Evolução, abaixo do primeiro degrau
Por isso deixe o que é alheio, e em seu meio seja igual
Aos pássaros que passam espalhando pólen e sementes
Fecundando solo e planta, com coisas santas; eficientes
“Vós sois a íris da Natureza, e do planeta sois o sal
para tal vos creamos com a beleza de seres inteligentes
de forma igual esperamos, que sejam mais conscientes”!
Yogaliastro por Zé Camargo
Os poemas “A Caverna I (Clausura)” e “Ecléticos Actos I (Tempero)
fazem parte do livro “Novos e Velhos Devaneios de um Louco Velho Reciclando o
mundo” de Zé Camargo (Violeiro Mineiro Capiau)
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H.R. Giger, Li I, 1974. Courtesy of the H.R. Giger Museum.
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A
CONSULTA
Francisco, morador em um conjunto Residencial INOCOPE no Tabuleiro
dos Martins nas proximidades do acesso à Rio Largo, prepara-se para dormir, mas
sente-se que está inquieto e ansioso.
- Acho que é devido à consulta médica marcada para amanhã com o
Dr. Francisco, meu xará.
Sabe ele, perfeitamente, que as coincidências entre os dois são
apenas antroponímias. Será que ele tem razão em ter esse comportamento antes de
uma consulta com um conhecido de mais de meio séculos? Hoje seu Francisco tem
72 anos e mora no conjunto com a mulher e sete filhos, três homens e quatro
mulheres. Para sua felicidade todos morando em sua casa. É o que veremos no
discorrer desta singela narração. O paciente passou, como já esperava, a noite
toda entre intervalo descontínuos de leve e breve sono e se levantando para
tomar água e se deitando, ao lado da esposa, ouvindo o nítido som do silêncio.
A pausa musical é importantíssima para completar o entendimento da música. Mas
quando se torna extremamente longa, como o silêncio nas horas de insônia, é uma
verdadeira angústia para o ouvinte.
Logo cedo acordou-se e começou o preparatório para à consulta.
Dirigiu-se para o terminal do ônibus, muita bondade do “paciente” em chamar
aquele veículo em que se encontrava sentado em um, presumível banco, de
“ônibus” (termo aplicado em países do primeiro mundo a um veículo completamente
diferente). Mas voltamos a nossa narrativa. Desculpem, pacientes leitores – não
confundam com o elemento da CONSULTA, vocês não serão mais incomodados com
indevidas interferências. Logo, Francisco começou a cochilar embalado com o
vaivém do “ônibus”. Um cochilo próximo do sono da noite, que o deixava atento
para puxar a corda e avisar o motorista que iria saltar no próximo ponto.
Caminho longo e árduo do ponto de ônibus ao consultório.
Assim que chegou, dirigiu-se à atendente que estava, para sua
surpresa livre. Apresentou-se, entregando-a a identidade e carteira da
UNIMED-AL (Associação de Médicos do Estado de Alagoas). Após devidas
conferências a atendente pediu que aguardasse. Levantou-se e se dirigiu para um
assento vago esperando para ser atendido. O respeitável médico atendia de oito
às nove horas e trinta minutos e ele seria o quinquagésimo quinto a ser
atendido (exímios 6 minutos para cada paciente). Acostumado ele pensava na
prazerosa consulta com o cordial Doutor. Que homem honrado e bondoso. Dedicar
tanto tempo para cuidar da minha abalada saúde. Como estava feliz e nervoso
para tão inusitado encontro.
LUC FERRY (filósofo francês nascido em 1951) diz em um dos seus
últimos livros O HOMEM DEUS ou o sentido da vida, que “Cada qual a sua maneira,
as grandes religiões buscavam preparar os homens para a morte, tanto a sua
própria quando a do ser amado. Inclusive, era nessa iniciação que elas nos
chamavam a decifrar o sentido da vida humana. As morais antigas tinham como
fato assegurado que a sabedoria se encontra na aceitação de uma ordem do mundo
que inclui o fim e que “filosofar”, consequentemente, é aprender a
morrer.” Mas assuntos como esses
estavam longe do conhecimento de ambos envolvidos na narrativa. O humilde Seu
Francisco porque vivia em um mundo próprio e diferente do que costumamos chamar
de “nosso mundo”. O outro, eminente médico, porque não tem, como veremos
adiante, nenhuma vontade de filosofar já que para um “Deus” a morte não existe.
Sempre cochilando, ouve um chamado no alto-falante (muito parecido
com os dos aeroportos antigamente) “Seu Francisco sala 6 no corredor à
direita”. Levanta-se rapidamente e dirige-se para o consultório enumerado.
- Bom dia Doutor Francisco!
- Bom dia seu Francisco, sente-se e fique à vontade.
- Estás muito bem. Corado e parece mais novo.
- Muito obrigado Doutor!
- O que o trás por aqui?
Sentado numa cadeira do outro lado, da elegante mesa de vidro,
encontrava-se, preguiçosamente apoiado em um braço da enorme cadeira, que mais
parecia o trono de um rei ou o assento de um ˜imperador” da antiga Roma, o
Doutor com um cínico sorriso travesso e majestoso.
- Estou com uma tremenda dor nas costas e um pouco tonto.
- Todos os
dias? Tosse? Devia ter vindo antes, faz mais de um mês da última consulta.
Não precisava fazer tal observação pois ele sabia, perfeitamente,
que o Associado da Unimed, pelo menos naquela clínica, só pode voltar ao mesmo
médico após decorridos trinta dias. Se for diferente é assim que foi informado
ao Seu Francisco e ele como bom cumpridor da “LEI” obedece sem
contestação.
- Algumas vezes seu Doutor.
- Hum!! Está aqui a sua receita. Tome um comprimido após o jantar
e volte assim que concluir à medicação.
Pergunta o Seu Francisco acanhado e com um pouco de medo.
- Posso continuar tomando o Lambedor que minha mulher faz com
hortelã, alho, cebola branca, mastruz e alecrim?
- Claro, vai lhe ajudar muito.
- Então, bom dia!
Saiu o Paciente e dirigiu-se para o distante ponto de ônibus. Fez
todo o interminável caminho de volta até o terminal da linha de ônibus. Cansado
caminhou pelo redemoinho de ruas e calçadas.
Na madrugada do sétimo dia após a consulta, seu filho mais velho teve
de o levar para uma emergência hospitalar onde foi constatada uma infecção
pulmonar. De volta à casa Seu Francisco, após uma conversa séria com sua
esposa, chamou seu filho mais velho e o repreendeu com todo rigor. O filho
chorou e lamentou o procedimento adotado “jurando” que aquilo não mais
ocorreria. O motivo da justa queixa, foi por seu filho não ter esperado para o
levar para uma consulta com o Doutor Francisco, seu Xará.
Antonio JESSÉ Leite, 30/09/2019
Pensamentos
Pensar pensamentos podres
Perdidos, pedaços, padrões
Possuindo premissas ponderações
Passíveis, parasitas patrões
Pulsar pensamentos partidos
Pregar pregando palavras
Possíveis pendências paridas
Postando pústulas penais
Pálidos pensamentos pactuais
Padeces palhaço pacato
Paristes paranoias perdidas
Parentes próximos pardais
Palacianos pensamentos prontos
Planejas parágrafos, perdão
Pairam potrancas pagãs
Pareias pacatas paixões.
Jorge Leite, Recife 05 de Outubro de 2019
Hans Rudolf Giger - (Chur, 5 de fevereiro de 1940 — Zurique, 12 de
maio de 2014) foi um artista plástico suíço com obras no campo da pintura,
escultura, design de comunicação e de interiores e cinema. Ligado a corrente do
surrealismo e da arte fantástica, H.R. Giger (como é conhecido no mundo da
Arte) cedo se destacou pela sua técnica extrema na utilização do aerógrafo em
detrimento do pincel, e, pela sua temática trabalhada nos limites de horror e
do erotismo.
Com a utilização da aerografia - técnica muito utilizada pelos
pintores hiper-realistas norte-americanos -, conduziu a arte do fantástico para
um patamar técnico superior, criando cenários e ambientes
"ultra-realistas" incomuns, quase palpáveis. Destas obras destacam-se
"masterpieces" como "Birthmachine" de 1967 e "The
Spell I" de 1973, entre outras.
Sempre inovador, viria posteriormente a desenvolver inúmeras obras
em 3D e mesmo novos processos plásticos, como a utilização de fotocopiadoras
xerox como método de obter novos grafismos.
Giger foi autor de um dos mais conhecidos cenários e
"monstros" da história do cinema, o Alien, cujo primeiro filme, da
saga - no qual trabalhou -, lhe proporcionou um Oscar de melhores efeitos
visuais. É dos autores mais copiados e plagiados da Arte Contemporânea.
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H.R. Giger, Necronom V, 1976. Courtesy of the H.R. Giger Museum. |
Artfile.ru - H. R. Giger
Google - H. R. Giger
Um belíssimo Almanaque de domingo, aqui, em nosso Blog Maçayó. Muita arte e riqueza nos conteúdos compartilhados nesses construções poéticas e literárias. Dois impecáveis sonetos recheados de muito conhecimento e sabedoria do querido amigo poeta Violeiro. Um texto lindíssimo, bem construído e detalhado do meu irmão Jessé Leite, que traz nas entrelinhas grandes mensagens.
ResponderExcluirMagnífico Tautograma do querido poeta Jorge Leite, que luxo de arte. Hoje, só os grandes desfilam por aqui. Nesse fantástico encontro o resultado foi esse, uma página de muita cultura e conhecimento prévio das temáticas abordadas.
Um espetáculo de ilustrações parece até que estamos dentro das cenas de um filme de Alien. Excelente pesquisa sobre o grande H. R. Giger. Não precisa dizer mais nada. Somente aplaudir o show de domingo.
Parabéns aos poetas que hoje desfilam por aqui; o intenso brilho emanado por eles amplificou a minha visão.
Um ótimo domingo a todos e excelentes leituras e reflexões!
Errata: ... nessas construções Poéticas e Literárias...
ExcluirUau amigos, que dicionário literário foi compartilhado, aqui, no Blog Maçayó! Grandes aprendizagens com esses mestres que passam mensagens reflexivas. O Almanaque é sempre uma boa pedida para o domingo, é como se estivessemos lendo um excelente jornal com bons conteúdos. Dois belos e expresivos sonetos do poeta Capiau; uma narrativa linda, interessante e reflexiva do amigo Jessé Leite, mais um Leite, para somar no Blog. Já o amigo poeta Jorge Leite traz uma brilhante construção, como diz Bete, um expressivo Tautograma. Também gostei da excelente pesquisa do artista plástico H. R. Giger e das magníficas ilustrações. Parabéns aos poetas pelas artes e um bom dia para todos! Abraços
ResponderExcluirUma magnífica partilha no Cantinho do Saber, como diz Bete, marca registrada do Almanaque de domingo, muita arte e grandes reflexões. Belíssimos sonetos do sábio poeta Violeiro Mineiro Capiau que não economizou nas emoções. Achei magnífica o enredo da narrativa no amigo Jessé Leite, que detalhou com muita precisão a mensagem de "A CONSULTA". Já o amigo poeta Jorge Leite esse fabuloso Tautograma, que apresenta coesão do início ao fim. Belíssimas ilustrações do mestre Hans Rudolf Giger e uma excelente pesquisa para completar o cenário. Parabéns por mais um show de Almanaque. Bom dia para os amigos e leitores! Abaços...
ResponderExcluirHoje, venho prestigiar grandes amigos. Pessoas inteligentes do meio literário. O poeta Violeiro traz dois lindos e reflexivos sonetos, bem do jeito dele. O amigo Jessé Leite com sua brilhante narrativa, que estão sempre presentes muito conteúdo e detalhes no cenário. Que lindo e expressivo Tautograma amigo poeta Jorge Leite, gostei demais da sua construção poética. Lindas ilustrações qhe deram um toque todo especial de arte. Muito interagir e aprender lendo. Também da excelente pesquisa sobre o grande H. R. Giger. Parabéns aos poetas que brilham aqui na página do Blog Maçayó. Um forte abraços para todos e um bom domingo com arte e poesias.
ResponderExcluirAplausos para o conjunto!
Corrigindo: ... que deram... muito bom interagir...
ExcluirUm espetáculo de luz, câmara, ação e muita arte! Um grande show poético e literário com textos e mensagens com enorme conteúdo e sabedoria. Expressivos e inteligentes sonetos do mestre Violeiro, que deixa sua marca registrada na página do Blog Maçayó. O amigo Jessé Leite traz uma belíssima crônica narrativa bem relevante para um Almanaque de domingo, pura reflexão. Lindíssimo seu Tautograma amigo poeta Jorge Leite, muito coeso e criativo.
ResponderExcluirAdoráveis ilustrações e excelente pesquisa. Concordo com Bete, parece que estamos dentro do filme Alien. Parabéns aos poetas por tanta arte em uma só página. Bom dia e abraços!
Que linda e expressiva página de Almanaque no Blog Maçayó! As páginas de domingo sempre contemplam muitas leituras e arte. Um encontro de grandes poetas, como é a partilha de hoje. Dois sonetos lindos e reflexivos abrem o evento, o amigo Violeiro faz a gente refletir com os momentos do dia a dia. O amigo Jessé Leite compartilha, todas as vezes, textos lindos, tocantes bem redigitos e detalhados. Já o Tautograma do amigo poeta Jorge Leite ficou magnífico, bem inspirado e criativo. Gostei de tudo, pois as ilustrações são perfeitas para os temas profundos como os de hoje. Relevante conhecer mais sobre a arte de H. R. Giger. Parabéns por mais um grande momento de Almanaque. Aplausos para os poetas e suas artes. Boa tarde para todos e abraços.
ResponderExcluirBoa tarde para vocês! Esperei a tropinha sair para me sentar e aproveitar com muita calma minha leitura. É uma sensacional página compartilhada hoje no Blog Maçayó, muita arte, cultura e mensagens reflexivas, página profunda, mas com grande valor literário. Amei cada arte compartilhada os lindos e sábios sonetos do Capiau, a crônica belíssima e detalhada do amigo Jessé Leite, que veio para somar por aqui e o maravilhoso Tautograma do amigo poeta Jorge Leite, eu tenho muita admiração de quem faz arte em estilo de Tautogramas. Excelente pesquisa e expressivas ilustrações. Parabéns para todos vocês que expressam com arte as mensagens do dia a dia. Vou fazer uma releitura do Almanaque de domingo.
ResponderExcluirAbraços de admiração!