O arraial já está todo enfeitado, bandeirolas coloridas ornamentam o cenário, balões bailam suspensos no ar, folhas de bananeira e coqueiro adornam os postes de iluminação e, muitas barraquinhas espalhadas de um canto a outro na praça do coreto, como: barraca de comidas típicas, de quentão e batida de limão, de vários sabores de sorvetes, de maçãs do amor (que aqui no Brasil, são comuns no período junino), até mesmo a barraca do beijo. Eu, como sempre, na janela de casa apreciando à paisagem, os últimos detalhes para o evento tão esperado; sonhando acordada, embevecida pela magia da lua, rasgo da noite o véu, e vou dialogando comigo mesma: “Que indecisão, meu Deus, ainda não escolhi com quem vou dançar quadrilha, até agora não tenho par.” Logo, desperto dos meus suspiros de amor, pelo vozeirão de papai que me chama:
- Julinha! Filha, por favor! Venha aqui!

- Para que tanto grito, papai, estou aqui?!
- Filha, preciso encontrar minha carteira, estou saindo, para comprar mais milho, sua mãe utilizou tudo que tínhamos na pamonha, canjica, milho cozido, bolo de milho e se esqueceu do milho assado; já estou atrasado, pois ainda tenho que colocar mais lenha na fogueira, antes de acendê-la; não iremos fazer feio, quando se trata da nossa comunidade, ela merece uma inesquecível festa de São João.
Olho para papai, e penso que ele deve estar mesmo nervoso. Aproximo-me dele, beijo-lhe o rosto, e falo devagar:
- Papai, a carteira está no bolso da sua camisa.
Ele fica desconfortável, sai da sala e me deixa na indecisão: Afrânio ou Altan? Vou à cozinha tomar um café, pois o aroma do bolo de fubá está aguçando meu apetite.
- Boa noite, mamãe! Posso pegar uma fatia de bolo?
Mas, ela nem olha para mim. Fica falando sozinha: “Almas cozinheiras venham me ajudar, para a canjica não embolar.”
Pego um pedaço de bolo, e saio em seguida.
Resolvo falar com Altan, porque gosto dele e minhas amigas dizem que ele também gosta de mim; vou dizer-lhe que aceito o convite. E Afrânio irá arrumar outro par. Pela fresta da janela vejo Altan colocando mesas e cadeiras nas barracas, me aproximo devagar, e falo:
- Olá Altan! Eu vou dançar quadrilha contigo.
- Olá Julinha! Fico feliz! Você sabe que gosto de você. A gente se encontra na festa.
Depois de falar com Altan, solto suspiros de felicidade e volto correndo para casa, pensando com meus botões: "vou me divertir muito com ele.”
É hora do início da festa! Fico na barraca do beijo esperando por Altan. Aproveito para observar as matutas e matutos cheios de estilo, que estão circulando vestidos a caráter; muito xadrez, babados, saias rodadas e coloridas. Logo, o forrozeiro puxa o fole da sanfona, e começa o arrasta-pé no salão. Olho para o céu e lá vejo um balão subindo, a fogueira já está queimando, soltando brasa em várias direções. Ah, é a festa animada de São João! Senhor Padilha, o puxador da quadrilha, começa improvisando a marcação: “Atenção, atenção pessoal! A quadrilha já vai começar, escolham seus pares e venham dançar, a noite toda, até o sol raiar.” Logo, Altan se aproxima de mim, segura minha mão e me tira pra dançar. Os casais se posicionam um à frente do outro e começam a se animar; enquanto
A quadrilha termina e, o forró pé de serra continua no salão, fico dançando com Altan, e sua mão esquenta a minha mão. Que emoção! Fomos respirar um pouco, o luar está deslumbrante e ficamos bem juntinhos. Ele olha para mim, e diz:
- Julinha, eu gosto de você!
Fico sorrindo, um pouco acanhada, e digo-lhe:
- Altan, eu também gosto de você! Mas, hoje é dia de festa! Vamos continuar dançando no salão.
E assim, foi a noite inteira, muita festa, forró e animação!
Viva São João! Viva!
.
Elisabete Leite
(Antes da Pandemia as Festas Juninas eram pura tradição.)
O Blog Maçayó está em clima de festa
Hoje é o nosso São João improvisado
Vamos cantar e dançar com modesta
Para que o forró seja sincronizado...
Vestidos a caráter para nossa seresta,
Declamações de poemas e cordel encantado
O Blog Maçayó está em clima de festa
Hoje é o nosso São João improvisado...
Quentão, canjica, pamonha no salão de festa
Queremos todos dançando com cuidado
Para que a degustação não fique indigesta
E o Arraial festivo continue animado
O Blog Maçayó está em clima de festa.
Elisabete Leite
Quando é noite de São João
No acender da fogueira
Queimas de fogos, balão...
Inauguram a brincadeira.
Crendice, adivinhação...
Já são regras rotineiras
Quando é Noite de São João
No acender da fogueira.
Algum Pedido Bobão
À Deusa Casamenteira
Solteirona de bobeira
Pescando algum solteirão
Quando é noite de são João.
Valdemar Guedes
Entre as muitas lembranças
que bem guardo
a fogueira traz grande recordação,
ao lembrar da minha terra posso ver
a quadrilha ao som do forró,
do xaxado e do baião.
A música que me faz estremecer
me transporta com leveza
ao meu torrão.
Saudade e alegria posso ter,
pois, são boas as lembranças, e o coração
palpitando acelerado, sem doer
povoa o sonho, antes do adormecer, então...
acordado sinto o passado
e me encho de emoção, recordando
as noites inesquecíveis de São João,
em Pirpirituba, minha terra, meu torrão.
Luiz Manoel de Freitas
Pirpirituba - PB
Vejo estrelas bailando
Num dueto de amor,
luar dos apaixonados
Aquecidos no calor,
No acerder da fogueira
Das festa de interior.
Lembranças das festas juninas do tempo das noites frias, dos amigos reunidos
Para mais uma quadrilha, quanta alegria havia o cheirinho da comida que das barracas subia e o brincar quem diria pescaria, tiro ao alvo era uma correria, para a barraca do beijo no final pra lá se ía.
E hoje, quem diria
Vivendo em contramão
A alma fica isolada
Disfarça o coração
nas lives raízes juninas
O São João da televisão.
Rizonete Alves de Souza
23/06/2021
Embarcamos na Maria fumaça
Partindo da cidade de Galante
Dançando forró com Graça
Com destino a Campina Grande
O desembarque do trem do forró
Na pista da Vila da folia
A sanfona chorando em dó maior
No sitio São João com alegria
Chegamos no parque do povo
O show de Elba ia começar
Muito arrasta pé até o dia raiar
No maior São João do mundo
Dançando um baião animado
Coberto por um céu estrelado
Baltazar Filho
23 de junho de 2010
De: PEDRO PASSAMANI
Meu dedilhar tocava corações.
Nascido da alma, rimava emoções.
Em noite de cantorias pacholas,
Fluíam poesias, versos, canções.
Era alegria sem medos ou desencantos
Nos festejos de São João.
Em arraiais de homenagem ao santo,
Supremacias de violas.
Vivi livre, sem conhecer tristezas,
Sem desenganos. Era só beleza!
Passa o tempo e a vida se evade.
Pouco a pouco vira castigo.
Os verdes anos se foram comigo.
Do violeiro, ficou somente a saudade. . .
Véspera de São João, 23 de junho, anos 60... Na manhã daquele dia, em uma rua chamada Santa Fé, incrustada na Levada, na pequena e agradável Maceió Dona Lourinete, convocava as "almas cozinheiras", acorda seus seis filhos e começa a distribuir tarefas: “Jorge, Toinho, Socorrinho, Lucinha, Fátima, Betinha, vamos começar. Você vá pegar folhas de bananeira, você vá descascar os milhos, guarde as folhas mais verdes, vá ralar o milho, cuidado com as mãos, separe as espigas para assar ...”. Seu Jessé já tinha comprado duas mãos de milho no dia anterior.
Daquele momento em diante, não se parava mais. Dona Lourinete era o chef, era o mestre, era o regente, era o técnico de futebol; mostrava, fazia, mandava desfazer, repetia, brigava .... Não parava um minuto, nem nós.
No final da tarde, após um intenso e prolongado dia, todos estávamos cansados e felizes. Sobre a mesa vários pratos de canjica que Betinha não deixava embolar, uma especial era para o Jorge; pamonhas que não abriam quando estavam sendo preparadas. Pé de moleques enrolados em folhas de bananeiras que Toinho ajudou a tirar do pé, e limpou. Se Dona Lourinete era o mestre, Socorrinho era a contramestre, supervisionava tudo e fazia um pouco de tudo. Fátima e Lucinha faziam e ajudavam em tudo.
Após tanto trabalho, cada um pegava e dividia um grude para provar, uma delícia. O beiju para o café da noite, estava sequinho. O enorme caldeirão de milho verde ainda cozinhava no velho fogão. A mesa era complementada por bolo de milho e suspiros. E todos suspirávamos aliviados e felizes por ter dado conta do recado.
Todos os anos era a mesma festa, até que crescemos, saímos de casa, pois a vida assim nos obrigava, mas levamos na alma tais lembranças. Ontem passei o dia com Fátima e Betinha, na casa de Fátima, quando elas foram orientadas pelas “almas cozinheiras” e reproduziram aqueles momentos felizes de nossa infância e adolescência. Passaram o dia na cozinha, e no final da tarde a mesa estava repleta de travessas de canjica, bolo de milho, bolo de macaxeira, pamonhas e outras delícias.
Feliz São João
Jorge Leite, 24/06/2018.
Festas Juninas - Imagens Google