EDIÇÃO Nº 470
Tema das Imagens: Jean- Baptiste Debret Senhora comum em meio aos seus afazeres diários - Jean-Baptiste Debret.
ENCONTRO DE POETAS
DUELO DE AMOR
Somos dois na disputa por esse amor
Frente ao outro, a mirar o coração
Se valer a pena esse duelo entre os dois
Um de nós, abatido, cairá ao chão.
Sei que serei eu por julgar-me invencível
Não sabes tu que há muito fui derrotado
O tiro que me abateu, neste instante lembrado
Veio desses olhos de olhar indivisível.
Teus cabelos desalinhados pelo vento forte
Ora se debruçam em teu colo amado
Ora se atrevem a correr para o vento
Deponho as armas, imploro por tua sorte
Estou vencido e do teu amor sedento
Pedindo a Deus viver a vida ao teu lado!
Socorro Almeida
Recife, 14/04/2021
DÍVIDAS DE AMOR
Fui caminhando entre a sorte e o azar
A mais cruel, entretanto, foi a sorte
Que abracei empolgada em ser feliz
E de amor morrer antes que se importe.
Foi o que pensei, porém, já era tarde
Pra negociar os horrores da sua inveja
Ou da paixão que mascara toda verdade
Pelo amor sincero que o coração almeja.
E nos jogos de azar de cada esquina
Onde dívidas se acumulam e não são pagas
Deixei meu coração por garantia...
Mas o tempo que tudo mata e desatina
Fez as minhas dores muito mais amargas
E sem sentir, eu... já por você morria!
Socorro Almeida
Recife, 26/04/2021

Execução de punição por flagelo - Jean-Baptiste Debret.
MEMÓRIA DE CRIANÇA
Acordei em um domingo
Cedinho, de manhãzinha!
E uma alvorada daninha
Badalava o sino da capelinha
Embaixo das árvores
Acolhedoras e sombrias
Olhava pra cima e ouvia
Um canto chiado e fino
O semblante da tarde caindo
E eu criança corria sorrindo
Em busca do meu sonho de menino
De longe podia vê na estrada
A carroça e o boi guiando
Uma voz rouca solfejando
Para a carroça não enguiçar
Com o lenço amarrado, cobrindo o cabelo!
Amarrado feito uma rodilha
A minha avó torrava café com alegria.
E ajuntando as criações no terreiro eu via
O seu coração palpitar
Desatava o nó do cabelo, amarrava as cabras no chiqueiro
O café no fogo já subindo cheiro e eu a esperar!
O beiju no côco com queijo
O tradicional cabeça amarrada, pra nosso paladar saciar.
Baltazar Filho
07 de novembro de 2021
ANJOS
Com um leve bater de asas
Sinto a brisa que tu emites
Teu toque tão delicado
Ao encostar em meu rosto
A luz que emana em teus olhos
Deixa meu coração taciturno
São tão profundos
Que me perco no teu oceano
Anjo, guarda nosso segredo
Anjo, voa livre pelo azul dos céus
Anjo, esse é meu desejo apaixonado
Sejas minha luz no céu
Pois irei te procurar em alto mar
No polo norte ou até
Do outro lado do mundo
E quando te encontrar
Irei descansar em teus braços
Meu belo e doce anjo
Então, me leva para um lugar
Em que te amarei para sempre.
José Neto
Pirpirituba, 21/10/2021
Família Brasileira no Rio de Janeiro . Jean-Baptiste Debret
Alguém
Alguém com amor me disse:
Dá pra vida ser mais bela
Mesmo na escuridão
Não perca o brilho dela
Levante um pouco da cama
E olhe pra quem te ama
Sorria, mesmo chorando
E não fique com vergonha
Tem tanta gente que sonha
Em sorrir te abraçando...
Lucas Lima
Abril/2021
Você é capaz
Recomece, não desista
Insista em arriscar
Se você não conseguiu
Nunca pare de tentar
Pois todo gol só é feito
Por quem se arrisca em chutar.
Às vezes nossos problemas
Nos deixam agoniado
Mas o segredo está aí
Bem pertinho do seu lado
Mudar o seu pensamento
Te trará bom resultado.
Sempre tente outra vez
Pare no caminho não
A estrada nunca muda
Pra quem sabe a direção
E não fica perdedor
Quem nasceu pra campeão.
Você pode conseguir
Mesmo sendo um rapaz
Uma mulher, um idoso
Só uma coisa é eficaz
Prove para você mesmo
Que você já é capaz!.
Lucas LimaSetembro/2019
A vida
A vida tem seus mistérios
Difíceis de desvendar
Ninguém, sabe ao certo
Quando o tempo irá passar
Só temos uma certeza,
Tudo vai se acabar.
Você pode ter dinheiro
Mas ao tempo ninguém paga
Somos uma vela acesa
Se soprar, ela se apaga
E a vida é tão pesada
Que as vezes nos esmaga.
Assim, então, o que fazer
Para ser realizado?
Jesus Cristo já dizia
É amar e ser amado
Vivendo aqui no presente
Sem os erros do passado.
Entenda que tudo passa
Nós vamos passar também
Procure querer ficar
No coração de alguém
Mas isso só é possível
Se praticarmos o bem
Lucas Lima
Funcionário a passeio com sua família - Jean-Baptiste Debret
LEITURA DE DOMINGO
UM ENCONTRO NO CAIS
É uma manhã de Outono... com ventos que sopram em várias direções. As folhas amareladas voam até caírem ao chão. O gorjear dos pássaros junta-se ao tamborilar dos pingos d’água que descendo do céu cinzento, despertam a Flora e a Fauna. Parece até inverno, os raios argênteos iluminam o horizonte de um canto a outro. É uma trovoada que chega surpreendendo.
Júlia acorda soltando suspiros de felicidade porque hoje é um dia muito importante para ela. A garota terá um encontro com seu grande amor no final da manhã. A moça, na flor da juventude, sonha em ser feliz ao lado de quem ama. Uma jovem considerada linda, de pele morena, cabelos longos e olhos amendoados. Ela vive constantemente sorridente; é uma grande admiradora de natureza e ama contemplar o esvoaçar das borboletas pelo jardim; caminha em passos lentos, afasta um pouco as cortinas e percebe que o tempo está chuvoso. Volta-se em direção ao criado-mudo com seu olhar fixo em um porta-retratos, onde está a foto de um belo jovem. Júlia suspira fundo, e diz baixinho: "Augusto tenho tanta saudade de você". Olha para o relógio e pensa: “Meu Deus, estou atrasada! O navio de Augusto já deve ter chegado ao Cais do Porto. Eu preciso correr contra o tempo.” Veste-se apressadamente e sai correndo em disparada até o portão, para não perder a última condução da manhã...
Devia passar das onze horas quando a garota chega ao Cais; a chuva continua forte e se mistura aos longos cabelos encaracolados da bela jovem; obrigando-a a se proteger embaixo da marquise de um velho armazém abandonado. Olha para frente e vê um enorme navio atracado no local de embarque e desembarque de cargas e passageiros. A jovem aproxima-se e percebe um clima pesado, como se um mar, de águas turvas, houvesse passado por ali, deixando apenas holocausto. Havia vários marinheiros de semblantes tristes circulando calados. Ela imediatamente para em frente à entrada e, pergunta a um jovem marinheiro:
- Moço, o que aconteceu por aqui?
O rapaz olha para Júlia e respondeu-lhe:
- Senhorita, um jovem aspirante da Marinha acaba de falecer.
Júlia continua as suas indagações:
- Desculpe-me a intromissão! Por acaso, o senhor sabe o nome do aspirante que morreu?
- Sim, dona moça! O nome dele era Augusto! Respondeu-lhe o rapaz.
A garota fica atônita, deixando o local cabisbaixa, aos prantos. O encontro com Augusto era motivo de alegria, mas agora ele estava morto. Os suspiros de felicidade, se transformam em lágrimas de tristeza. De repente, sente uma mão pesada sobre seu ombro, e uma voz suave que diz:
- Meu amor, por que você não me esperou? E por que você está chorando? Estou com tantas saudades!
Júlia não consegue acreditar no que estava ouvindo, aquela voz é inesquecível, só pode ser do grande amor da vida dela. A garota olha bem nos olhos de Augusto e se atira nos braços dele buscando conforto. Ele a envolve em um longo abraço, enxuga as lágrimas que escorrem pelo rosto aflito da garota, procurando tocar seus lábios na boca dela e beijam-se, apaixonadamente. Júlia pergunta-lhe:
- Augusto, alguém disse que você havia morrido. Explique-me, por favor!
O jovem olha para a mulher amada e responde-lhe:
- Meu amor, foi uma confusão; tinha outro aspirante com meu nome, apenas o sobrenome era diferente. Foi terrível o acontecido, mas eu estou aqui, para realizar o nosso encontro de amor.
Augusto continua sorridente e segue falando:
- Meu amor, eu tenho um presente para você. Espero que goste!
O rapaz coloca a mão no bolso direito da calça, tira uma caixinha embrulhada com um laço de fita vermelho e entrega para Júlia. A jovem fica emocionada, com as mãos trêmulas abre o embrulho e para a sua surpresa é um par de alianças. Augusto aproveita e faz o pedido:
- Quer se casar comigo? Eu te amo!
- Sim, também eu te amo! Diz a garota toda feliz.
Eles se abraçam e se beijam perdidamente, selando assim o compromisso tão desejado.
O tempo passa... Eles se casam e são felizes.
Elisabete Leite
A LUZ DO MEU OLHAR
Ah, se você soubesse!
O quanto é intenso o meu amor
É tão forte quanto o brilho do sol
Tão reluzente quanto as estrelas,
É tão inebriante quanto uma noite de luar...
Ah, se você soubesse!
Jamais você deixaria de me amar
Nunca ignoraria a minha saudade
Acharia em seu olhar o meu olhar
Não se esqueceria da minha imagem...
Ah, se você soubesse!
Como eu desejo viver ao seu lado,
Tocar o seu rosto, beijar a sua boca
Envolver-lhe em um longo abraço
Consigo dormir, sonhar e acordar...
Ah, se você soubesse!
O quanto é real o meu sentimento
Jamais me deixaria sonhar acordada
Iria recuperar os nossos momentos,
Para caminharmos por novas estradas.
Elisabete Leite
Capataz pune escravos em propriedade rural - Jean-Baptiste Debret
LEITURA COMPLEMENTAR
Jean-Baptiste Debret Jean-Baptiste Debret chegou ao Brasil em 1816, compondo a
Missão Artística Francesa. Era formado pela Academia de Belas Artes da França,
além de sua formação em Engenharia. A situação política da França, aliada à
tristeza da morte de seu único filho, trouxe Debret ao Brasil. Seu olhar atento
para a vida cotidiana nos legou uns dos mais importantes registros do início do
século XIX no Brasil.
A Missão Francesa ao Brasil ocorreu a pedido de Dom João VI,
e pretendia criar uma Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro. A princípio, o
trabalho de Debret tinha o objetivo de criar grandes telas oficiais para Corte
Portuguesa no Brasil, além da decoração dos eventos reais.
Tornou-se professor da Escola Real de Artes e Ofícios, e foi
um dos responsáveis pela primeira bandeira do Brasil independente, cujos traços
e cores se mantiveram na bandeira atual do país.
Motivado pela curiosidade do irmão, com quem trocava
correspondências, Debret dedicou-se a registrar o verdadeiro Brasil. Tinha um
interesse especial em retratar a escravidão e a cultura indígena.
A influência do Iluminismo foi fundamental na escolha dos
temas de seus retratos. A proposta da Enciclopédia de Denis Diderot — uma das
grandes referências do iluminismo francês — era acumular em livros uma grande
quantidade de conhecimento.
Seguindo esta proposta, Debret dedicou-se a retratar
costumes, festas populares, relações de trabalho, ocas, casas, utensílios, a
fauna e a flora brasileira. Também anotava informações sobre os temas
escolhidos e viajou por várias cidades do Brasil.
Jean-Baptiste Debret passou quinze anos em terras
brasileiras, entre 1816 e 1831. Após esse período, decidiu retornar à terra
natal. O motivo mais provável de seu retorno à França foi a publicação de seus
trabalhos na Europa.
Assim, publicou em Paris entre 1834 e 1839 os três volumes
da obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, onde exibia as suas gravuras
com comentários e descrições detalhadas.
Apesar da obra não ter obtido o sucesso comercial esperado
por Debret, tornou-se uma importante referência histórica. Seu olhar detalhado
para cenas cotidianas nos deixou imagens que, não fosse seu interesse peculiar,
não teríamos a oportunidade de conhecer.
Outros artistas estrangeiros, como o alemão Johann Moritz
Rugendas, também fizeram importantes registros da realidade brasileira do
século XIX.
Autor: Alfredo Carneiro – Editor do netmundi.org
Família guarani capturada por caçadores de escravos - Jean-Baptiste Debret
RECORDANDO POESIAS
Dúvidas Dúvidas que assolam minha alma,
São demônios que fustigam o meu ser,
São temores que perturbam minha paz,
São desejos que machucam meu coração,
São meus sonhos que se desfazem no cotidiano
Desfazendo em pedaços meus castelos
Feito de cartas de um baralho desgastado
Pelo tempo, pela vida e pela dor.
Jorge S Leite Recife, 29-11-1992
Saudades
Hoje estou com saudades,
Mais do que ontem,
Mais do que antes,
Muitas saudades.
Não sei se é maior
Ou melhor,
Sei que estou com saudades.
A saudade saiu do coração,
De sua quietude.
Tomou conta de mim,
Dos olhos que choram,
Dos pelos que sentem,
Da pele sua.
Dos lábios que lembram os teus,
Da boca que clama teu nome,
Da carne, dos ossos, dos nervos.
Hoje a saudade é gente.
É humana.
És tu.
Sou eu.
Recife, 04/09/2001
Jorge Leite
IMAGENS: Netmundi.org
Bandeira brasileira - Jean-Baptiste Debret