Edição Nº 478
O Tempo parecia parado, nenhuma folhagem bailava no ar, o vento resolveu ficar estacionado, só esperando a chuva passar. Maria Helena foi até a janela da sala na intenção de escutar o tamborilar dos pingos d'água na vidraça, sendo sonhadora por natureza, precisava sentir os olores das coisas; necessitava com urgência, de aventuras e sensações para escrever. Mesmo chovendo ela precisava passear um pouco, contemplar o verde da natureza. A garota tinha um sonho, ela queria escrever sobre o seu cotidiano de vida. Sendo assim, vestiu uma roupa confortável, pegou sua sombrinha colorida e um agasalho para protegê-la do frio e segui andando tranquila pelo calçadão; um pouco mais à frente cruzou com um amigo da faculdade e parou para cumprimentá-lo:
- Bom dia, Paulo! Você não estava na faculdade ontem? Cheguei a procurá-lo!
O rapaz olhou fixamente para Helena, e respondeu-lhe:
- Bom dia, Heleninha! Ontem amanheci indisposto e achei melhor ficar em casa. Posso ajudá-la?
A garota abriu um largo sorriso, e disse-lhe:
- Paulo, você não imagina o que aconteceu, o professor de Latim fez um teste surpresa, em dupla, e eu sabia o quanto você é bom nesse idioma, mas você não apareceu. Sem nenhuma opção, fiz dupla com Luiz Carlos e não consegui tirar uma nota favorável. Amanhã haverá outra prova.
Helena e Paulo continuaram conversando, calmante. De repente, o inesperado aconteceu, um caminhão de carga tombou em plena avenida e toda carga de melancia desceu ladeira abaixo atingindo os veículos e os pedestres; gerando assim, uma confusão total. Foi uma correria geral para todos os lados. Helena foi atingida em cheio, caiu feio e precisou imobilizar o braço direito, enquanto com Paulo nada aconteceu. A garota voltou para casa transtornada pelo tumultuado acontecimento, entrou conversando com seus botões: "que azar, eu não esperava por essa. Como irei responder a prova de amanhã! Fui em busca de aventuras e nada encontrei, além de desventuras." Logo após, deitou para descansar e adormeceu. Acordou cedo, tomou um analgésico, ainda sentia dores no braço, foi correndo para a faculdade pois teria prova no primeiro horário e não podia chegar atrasada. Quando Helena entrou na faculdade percebeu um clima pesado, como se um rio, com águas turvas, houvesse preenchido todos cômodos e corredores. Tudo vazio! Helena parou no rol de entrada e perguntou ao porteiro:
- Sr. Manoel, o que aconteceu por aqui?
- Moça, o seu professor de Latim faleceu, subitamente, essa manhã. E todos estão no velório. Respondeu-lhe.
Helena saiu arrasada pelo terrível acontecimento, porém precisava participar do velório, foi apressada para à capela onde estava sendo velado o corpo do professor de Latim... Entrou cabisbaixa no recinto, gostaria de não precisar passar por aquilo, mas tudo aquilo fazia parte do cotidiano da vida dela. Devagar se aproximou do caixão, olhou o rosto embranquecido do mestre e pôs-se a chorar, sentindo-se tonta encostou o corpo no caixão, que com seu peso caiu no chão. A correria foi grande, gritos de pavor e muito choro; nesse cenário mórbido Helena também caiu e desmaiou. Quando acordou o velório já havia acabado, o local estava vazio e ela estava se sentindo perdida diante de tantas desventuras. Pouco minutos depois, seu amigo Paulo entrou no local para falar com ela, e foi logo dizendo:
- Heleninha, você melhorou? Fiquei preocupado contigo e achei melhor deixá-la descansando.
A moça olhou diretamente nos olhos do amigo, e disse-lhe:
- Paulo, eu preciso me benzer! Tantas coisas que estão acontecendo comigo, já não sei o que pensar.
Paulo sorriu, e respondeu-lhe:
- Heleninha deixe de pensar asneiras, pois tenho uma novidade ótima para lhe contar. Ganhei uma viagem com hospedagem em hotel cinco estrelas e com direito a uma acompanhante. Você quer me acompanhar?
Helena abriu um largo sorriso e respondeu positivamente.
O tempo passou rápido... Helena e Paulo após a viagem nunca mais se separaram. Tempos depois, Helena conseguiu escrever seu livro tão sonhado, contanto as venturas e desventuras de uma sonhadora.
Elisabete Leite
No balanço da rede, fiquei a sonhar
Ah, um belíssimo sonho acolhedor!
Procurei-te no sol, estrelas e no luar
Foram momentos de puro esplendor...
Procurei-te na elegância do amanhecer
Até no desabrochar de uma bela flor
Toquei no arco-íris somente pra te ver
Mas, por lá, só encontrei a tua cor...
Procurei-te pela imensidão do mar
Adentrei devagar, sou poeta sonhador
Lá encontrei peixes e estrelas-do-mar...
Assim, penetrei fundo em meu interior
e encontrei-te escondido a me amar
Ah, o melhor da vida é o nosso amor!
Elisabete Leite
Por:Manoel Firmino
Em:06/02/2022.
Chega a sexta feira
Foi aquele alvoroço
Começou a bebedeira
Beijos, abraços, almoços,
Lá vem o sábado
Não houve mais cerimônia
Os Beijos e os abraços
Viraram atos sem vergonha.
Chegou o domingo
Acabou toda gana
As juras de amor
Acabou no fim de semana.
manoelfirmino08@gmail.com
(83)986784726
Quem tiver a sua mãe
Trate como uma rainha
Nesse dia tão especial
Não a deixe sozinha
Não perca a oportunidade
Depois será só saudade
Como queria ter a minha
Quando chega esse dia
A saudade me maltrata
Lágrimas corre nos olhos
Parecendo até cascata
O dia demora tanto
Do riso faz_se o pranto
Como você faz falta
O amor de uma mãe
Não tem como comparar
Quando cometes um erro
Ela vem ti aconselhar
É um amor sem fim
Que vive dentro de mim
Enquanto na terra habitar
Nunca hei de esquecer
Os ensinamentos seus
Não praticar a maldade
Querer só o que é teu
Praticar sempre o bem
Amar só o que tu tens
Pra ficar perto de Deus
Manoel Firmino
É o templo sagrado das lembranças
Que nos abre as portas do passado
Nós mostrando os caminhos desbravados
Alegria de nossas esperanças
Mergulhando nas mais belas heranças
Da cultura dos nossos ancestrais
Que nos deixa feliz cada vez mais
Por saber que foi muito aprendizado
O caminho sofrido foi trilhado
Na procura de tantos ideais.
Elias dos Santos
Pequeninas flores...
Cores e liberdade
Quase imperceptíveis
Nos canteiros da cidade
Não são rosas perfumadas
Mas, estão pelos caminhos
Com suas cores diversas
Camuflam os passarinhos
Pequeninas flores...
Resistentes,atrevidas
Apenas flores do monturos
Que também enfeitam vidas.
Elias dos Santos.
E com aparência de soltas,
elas iam se multiplicando,
Fluíam como água de uma fonte
com pressa de serem.
Nessa seara em que trabalhavas,
Eu era teu ajudante, teu tradutor,
responsável por colhê-las no cesto
aglutinador da compreensão.
Tanta classe de palavras no cesto
havia e era preciso entendê-la,
Mas eu persistia na tarefa de ligar tuas palavras soltas, de compreender
suas aparentes contradições.
Porém não era para seres lidas,
Não era para seres compreendida,
Tu apenas era, e na palavra, te fazias
parábolas em mim, e mesmo incapaz
de te traduzir, amava ler tuas frases soltas que tinham um vínculo, um elo
embora não me fossem traduzíveis.
Eu me fazia ideia para compreender
o teu real objeto de haver.
@rioquepassa
Por: Baltazar Filho
Em, 08/02/2022
Lembro da infância, inusitadas emoções.
O zunido dos trilhos, o balanço dos vagões.
No alto da colina, ranchos de taipas armados.
No pé da serra, fazendas e grandes arados.
Na semblante do maquinista uma satisfação
Crianças tremiam de medo, suavam as mãos.
O trem apitava, aparecia um frio no coração.
O trem soprava cuspindo fumaça, noutra direção.
E eu, ainda um moleque muito emocionado.
Pendurado na cintura da minha avó, agarrado.
A cada manobra do trem chorava preocupado.
Rezava o Pai Nosso e a Ave Maria, tudo errado.
Na última estação, funda a nossa aflição.
Era o nosso desembarque a Duas Estradas.
O sol se escondia e a lua chegava iluminada.
O escuro cobria a mata, no céu uma escuridão.
Na mão de vó, a luz fraquinha do lampião.
Pra chegar no sítio da família era uma manobra.
O caminho não tinha fim, passaram-se as horas.
Vó falando em Maria Fulozinha, uma anedota.
As cigarras e os grilos cantando e eu com medo das cobras.
Num era mesmo uma assombrosa história?
balfilho@gmail.com
Por: Baltazar Filho
Em, 08/02/2022
Um passeio radical, a largada do trem na estação.
A bandeirinha acenava, trem a vista a gente embarcava.
Em cada estação, desembarcava uma multidão.
A máquina embolava na ferrovia, café com pão, bolacha não!
O embarque e desembarque, era uma animação.
Crianças sentavam, tremiam de medo, suavam as mãos.
O trem apitava, o frio na barriga, um tremor no coração.
O maquinista puxava a manivela, subia a poluição.
A fumaça espalhava no céu, o trem apitava, mudava de direção.
Apontava a última estação, um alívio, fim da aflição.
Era o nosso desembarque, finalmente a Duas Estradas.
Eu abraçado na minha avó, agarrado na sua cintura, sem noção.
O sol se pondo, a lua chegando, a estrada clareava.
O escuro cobrindo a mata, no céu uma escuridão.
E eu com os olhos fechados, dentes trincados com medo de assombração.
As cigarras e os grilos cantando, os sapos na lagoa pulando, o rancho e um clarão.
Era o lampião aceso, clareando o terreiro, no sítio São João.
balfilho@gmail.com
Foi sem querer que o Amor e a Saudade
Se encontraram na esquina do mundo
E o Amor lhe perguntou
Com ares de vagabundo:
- Por que teimas em fazer sofrer
O coração de um pobre rapaz?
Eu pensei que fosses diferente
Menos teimosa e contumaz!
- Porque sou aquela que não vê
Em que coração se abrigou
Só tu és o responsável
Pelo rapaz e sua dor!
Sou o vazio que deixaste
Em troca do teu amor!
- Mas eu o quis fazer feliz
Se não o fiz, foi por maldade?!
- Eu só sei que agradeço
Por me dar oportunidade
De ser dona do teu coração
Pra continuar sendo Saudade!
Socorro Almeida
Recife, 17/02/2022
Amo com toda minh'alma
Com paciência e tolerância
Eu amo quem te traz
Sorrisos em abundância...
Amo quem te dá a mão
Em difícil circunstância!
E assim eu te vejo
No brilho das estrelas
No encanto do pôr do sol
Onde eu mais te beijo!
Nas cores dos horizontes
Nas fases da lua
No sorriso teu
Em tua face nua!
Oro por ti, com paciência
Por tua lágrima à distância
Por tuas horas em ânsia
A chamar por mim!
Porque te amo assim
E assim...te amo mais
Por nada mais ter importância!
Socorro Almeida
Recife, 18/02/2022
Artista Plástico, Poeta, Músico, Ator, Artesão e Produtor Audiovisual.
Desde 1999 é voluntário do Projeto No Canto da Sala que leva a música, a poesia, para a sala de aula do infantil à universidade.
Membro da Academia de Letras e Arte de Guarabira "Casa de Marisa Alverga", ocupando a cadeira n°3 tendo Maria da Piedade de Paiva Medeiros como sua patronesse.
Machado de Assis
O SERMÃO DO DIABO
1893, setembro
Nem sempre respondo por papéis velhos: mas aqui está um que parece autêntico; e, se o não é, vale pelo texto, que é substancial. É um pedaço do evangelho do Diabo, justamente um sermão da montanha, à maneira de São Mateus. Não se apavorem as almas católicas. Já Santo Agostinho dizia que "a igreja do Diabo imita a igreja de Deus". Daí a semelhança entre os dois evangelhos. Lá vai o do Diabo:
"1º E vendo o Diabo a grande multidão de povo, subiu a um monte, por nome Corcovado, e, depois de se ter sentado, vieram a ele os seus discípulos.
"2º E ele, abrindo a boca, ensinou dizendo as palavras seguintes.
"3º Bem-aventurados aqueles que embaçam, porque eles não serão embaçados.
"4º Bem-aventurados os afoitos, porque eles possuirão a terra.
"5º Bem-aventurados os limpos das algibeiras, porque eles andarão mais leves.
"6º Bem-aventurados os que nascem finos, porque eles morrerão grossos.
"7º Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e disserem todo o mal, por meu respeito.
"8º Folgai e exultai, porque o vosso galardão é copioso na terra.
"9ª Vós sois o sal do money market. E se o sal perder a força, com que outra coisa se há de salgar?
"10. Vós sois a luz do mundo. Não se põe uma vela acesa debaixo de um chapéu, pois assim se perdem o chapéu e a vela.
"11. Não julgueis que vim destruir as obras imperfeitas, mas refazer as desfeitas.
"12. Não acrediteis em sociedades arrebentadas. Em verdade vos digo que todas se consertam, e se não for com remendo da mesma cor, será com remendo de outra cor.
"13. Ouvistes que foi dito aos homens: Amai-vos uns aos outros. Pois eu digo-vos: Comei-vos uns aos outros; melhor é comer que ser comido; o lombo alheio é muito mais nutritivo que o próprio.
"14. Também foi dito aos homens: Não matareis a vosso irmão, nem a vosso inimigo, para que não sejais castigados. Eu digo-vos que não é preciso matar a vosso irmão para ganhardes o reino da terra; basta arrancar-lhe a última camisa.
"15. Assim, se estiveres fazendo as tuas contas, e te lembrar que teu irmão anda meio desconfiado de ti, interrompe as contas, sai de casa, vai ao encontro de teu irmão na rua, restitui-lhe a confiança, e tira-lhe o que ele ainda levar consigo.
"16. Igualmente ouvistes que foi dito aos homens: Não jurareis falso, mas cumpri ao Senhor os teus juramentos.
"17. Eu, porém, vos digo que não jureis nunca a verdade, porque a verdade nua e crua, além de indecente, é dura de roer; mas jurai sempre e a propósito de tudo, porque os homens foram feitos para crer antes nos que juram falso, do que nos que não juram nada. Se disseres que o sol acabou, todos acenderão velas.
"18. Não façais as vossas obras diante de pessoas que possam ir contá-lo à polícia.
"19. Quando, pois, quiserdes tapar um buraco, entendei-vos com algum sujeito hábil, que faça treze de cinco e cinco.
"20. Não queirais guardar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e donde os ladrões os tiram e levam.
"21. Mas remetei os vossos tesouros para algum banco de Londres, onde a ferrugem, nem a traça os consomem, nem os ladrões os roubam, e onde ireis vê-los no dia do juízo.
"22. Não vos fieis uns nos outros. Em verdade vos digo, que cada um de vós é capaz de comer o seu vizinho, e boa cara não quer dizer bom negócio.
"23. Vendei gato por lebre, e concessões ordinárias por excelentes, a fim de que a terra se não despovoe das lebres, nem as más concessões pereçam nas vossas mãos.
"24. Não queirais julgar para que não sejais julgados; não examineis os papéis do próximo para que ele não examine os vossos, e não resulte irem os dois para a cadeia, quando é melhor não ir nenhum.
"25. Não tenhais medo às assembleias de acionistas, e afagai-as de preferência às simples comissões, porque as comissões amam a vangloria e as assembleias as boas palavras.
"26. As porcentagens são as primeiras flores do capital; cortai-as logo, para que as outras flores brotem mais viçosas e lindas.
"27. Não deis conta das contas passadas, porque passadas são as contas contadas, e perpétuas as contas que se não contam.
"28. Deixai falar os acionistas prognósticos; uma vez aliviados, assinam de boa vontade.
"29. Podeis excepcionalmente amar a um homem que vos arranjou um bom negócio; mas não até o ponto de o não deixar com as cartas na mão, se jogardes juntos.
"30. Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado ao homem sábio, que edificou sobre a rocha e resistiu aos ventos; ao contrário do homem sem consideração, que edificou sobre a areia, e fica a ver navios..."
Aqui acaba o manuscrito que me foi trazido pelo próprio Diabo, ou alguém por ele; mas eu creio que era o próprio. Alto, magro, barbícula ao queixo, ar de Mefistófeles. Fiz-lhe uma cruz com os dedos e, ele sumiu-se. Apesar de tudo, não respondo pelo papel, nem pelas doutrinas, nem pelos erros de cópia.
Ortografia Atualizada.