Edição nº 508
Era uma manhã de outono quente, no vilarejo, um pequeno povoado no sertão de Minas Gerais, onde o sol já resplandecia caloroso e dava o seu espetáculo de luz e brilho no céu... Hayde, uma garotinha de sete anos de idade, vivia sonhando acordada, ela era uma autêntica admiradora da Natureza. Comentava-se que a pequena menina ouvia e falava com as plantas e os animais; gostava de alimentar os diferentes pássaros que visitavam o seu quintal à procura de comida e abrigo nos dias de chuva. Ela era muito apaixonada pelos Pintassilgos e costumava ficar na janelinha de seu quarto ouvindo o gorjear daquelas fascinantes aves.
Naquele dia, tudo parecia normal e sua rotina foi igual, tomou seu banho no terreiro, onde podia contemplar o esvoaçar das borboletas sobre as flores e se debruçou na janela e lá ficou esperando os Pintassilgos aparecerem. De repente, um Pintassilgo maravilhoso posou em sua janela, ele tinha penas amarelas por todo o corpo, a cabeça totalmente preta e media aproximadamente 12 cm de comprimento. O magnífico pássaro rodou, rodopiou e posou novamente, a garotinha ficou deslumbrada com tanta beleza, tão emocionada que muitas lágrimas rolaram pela sua face rosada, pois a emoção era tanta que ela mal podia controlar e ficou pensando: “Não existe sentimento maior, eu sou feliz com o meu novo amiguinho!”. Assim, o silêncio foi quebrado pela voz suave daquele passarinho:
- Você é uma linda menina e todos os dias eu fico te olhando de longe, sem coragem de me aproximar. Eu sou um pintassilgo-da-cabeça-preta e vivo a voar pelos jardins em busca de aventuras e de novas amizades.
- Uau, que lindo você é! Você pode falar comigo, pois eu estou ouvindo a sua suave voz. Disse-lhe a garotinha.
- Eu posso falar com quem procura me ouvir, bela garota! Estou precisando de você, por isso te coragem para me aproximar! Exclamou o lindo pássaro.
- Oh, ave maravilhosa, eu posso ouvir os animais e as plantas! Sou apaixonada pela Flora e pela Fauna. Se eu puder te ajudar, ficarei muito feliz! Meu nome é Hayde.
- Ah, que lindo é o seu nome Hayde! Veja a minha asinha direita, ela está machucada! Quase não estou conseguindo voar, quase não canto de tanta dor, já não descanso e preciso de um abrigo enquanto meu dodói não sara totalmente. Quero minha vida de volta! Disse-lhe o passarinho, com um semblante de tristeza.
- Meu amiguinho Pintassilgo se aproxime, por favor! Deixe-me olhar direitinho o seu machucado, assim poderei aliviar o que você sente. Disse-lhe Hayde.
Então, a fascinante ave se aproximou da garota e deixou que ela cuidasse de seu machucado. A confiança entre eles era tanta que o Pintassilgo pousou na mão da garotinha e esperou a ajuda dela e o seu abrigo acolhedor. O amor que existia entre eles era o melhor remédio para aliviar a sua dor. Hayde analisou minuciosamente a asinha do amiguinho e percebeu que ela tinha um espinho de Mandacaru cravado, mas estava bastante profundo. Assim, Hayde falou:
- Meu amiguinho, tem um espinho de Mandacaru machucando sua asinha, vou precisar remover, sei que vai doer, mas você precisará confiar muito em mim. Eu te darei abrigo, alimentação, carinho e muito amor. Disse-lhe a bela garotinha.
- Hayde, você vai me dar tudo que um ser precisa para sobreviver, sem nada exigir! Isso se chama amizade verdadeira!
A menina Hayde conseguiu retirar o espinho da asinha do Pintassilgo, Forrou uma fronha bem limpinha em uma caixa de sapato e gentilmente colocou o seu amiguinho lá dentro para descansar. Ela cercou-o de muita atenção, carinho e todo dia passava elixir na asinha dele para não infeccionar, dava-lhe água e comida no biquinho e ficava cantando até ele adormecer. O tempo passou depressa e o lindo pássaro ficou curado. O amor e a amizade de Hayde realizaram um verdadeiro milagre. Certa manhã, o Pintassilgo falou para Hayde que precisava seguir seu caminhar, pois ele tinha uma família que dependia dele, tinha uma mãe e um pai que precisava da juventude dele. Então conversou com ela:
- Hayde, eu quero agradecer a sua acolhida, eu nunca fui tão feliz em minha vida, nos dias que aqui estive em sua companhia; eu vivo livre a voar é preciso voltar para minha família. Amiga, saiba que nunca te esquecerei, voltarei para te visitar, cantarei para você dormir, pois a sua amizade é o meu maior tesouro. Porém, não chore quando eu for partir, estarei com você em pensamento.
- Meu amigo alado, eu também fui muito feliz nesse período que passamos juntos. Sua companhia foi confortante e a sua amizade não tem preço. Obrigada digo eu, por você existir! Volte sempre, pois aqui estarei à tua espera! Siga o seu caminho em Paz! Hayde falou.
- Agora, preciso me despedir de você querida Hayde, saiba que não será para sempre, voltarei para te visitar diariamente, minha amiga, estarei a voar por esse jardim. Agora feche os seus olhos e acredite nesse seu amigo. O aventureiro Pintassilgo, que te ama de verdade, que é dono de um amor sem fim.
Logo, a garotinha Hayde fechou os olhos e quando os abriu, viu o seu amigo Pintassilgo pairando no ar, ele bateu as suas asinhas e para bem longe voou sem nem sequer olhar para trás. A menina não chorou, mas ficou muito triste. Já bem cansada, ela resolveu dormir...
Todos os dias seu amigo Pintassilgo voltava para visitar Hayde e selar assim a sua amizade. Ser amigo é se doar sem esperar receber, pois o amor é a maior prova de amizade.
Até a próxima aventura, meus amiguinhos! Sejamos amigos sempre!
Elisabete Leite
Ah Pintassilgo, meu passarinho!
Meu verdadeiro amigo colorido,
Foste seguir por outros caminhos
Deixando-me de coração partido...
Ele sempre foi um bom cantador
Gorjeava belas canções, sem fim
Inspirou-me a cantar e a compor
Deixava o dia sorridente, assim!
Hoje vivo infeliz, não sou sonhador!
Não vejo o pairar da ave pelo jardim
Perdi minha razão, sem o teu amor...
Choro por ti ao som dos bandolins,
Com saudade, tristeza e muita dor
Amigo Pintassilgo, volta para mim!
Elisabete Leite
O pintassilgo é um pássaro lindíssimo, originário da América do Sul e conhecido por um dos cantos mais bonitos encontrados na natureza. É possível ser encontrado em áreas abertas, como parques e jardins, e costuma voar em pequenos grupos, que fazem bastante barulho chamando atenção de quem os vê passar.
Uma das características físicas que distinguem o pintassilgo são as cores marcantes das suas penas: o corpo é de um amarelo vivo muito bonito. Se o pássaro for macho, as penas da cabeça serão totalmente pretas, fazendo parecer que a ave está usando um capuz. Já as fêmeas têm cor verde oliva, com manchinhas nas asas. Ambos são muito bonitos!
Quando atinge a idade adulta, o pintassilgo pode chegar a medir de 11 a 14 centímetros de comprimento. É uma ave muito resistente e raramente apresenta problemas de saúde: costuma ter uma vida bem longa, e pode chegar aos 14 anos de vida.
A reprodução e a alimentação do pintassilgo
O pintassilgo costuma fazer seus ninhos na copa de árvores como a araucária. O ninho é arredondado, em forma de cuia, e pode ter alguma forração na parte de dentro. Cada ninhada gera de 3 a 5 ovos, que são cuidados pela fêmea enquanto o macho sai em busca de alimento. Os passarinhos nascem treze dias depois que os ovos são postos, e aos 10 meses já estão prontos para iniciar suas próprias famílias.
A alimentação do pintassilgo consiste em insetos, folhas e brotos de diversas plantas, podendo também comer sementes de flores e pequenos frutos secos.
A criação do pintassilgo em cativeiro
Como acontece com outros animais silvestres, a comercialização e a criação de pintassilgos em cativeiro é regulamentada pelo Ibama. Isso significa que você só pode adquirir um ou mais pássaros em estabelecimentos que sejam certificados e que tenham autorização para venda.
Faça uma pesquisa aprofundada sobre o local onde pretende adquirir a ave, e não proceda sem ter certeza absoluta de que está tudo certo. Essa é a única maneira de você não cometer um crime ambiental, e de não contribuir com o tráfico e o comércio ilegal de animais silvestres.
O viveiro escolhido deve ser grande o bastante para acomodar alguns indivíduos, pois o pintassilgo é muito sociável e não vive sozinho. Quando perceber a formação dos casais, que se dá pelo canto, você pode transferir o par para uma outra gaiola onde será construído o ninho que receberá os ovos.
Depois que os ovos forem postos, separe o macho da fêmea e deixe que apenas ela cuide dos filhotes. É muito importante colocar os filhotinhos em uma gaiola menor, pois em viveiros muito grandes eles podem se machucar.
A gaiola deve ser limpa diariamente para remover vestígios de fezes e restos de alimentos, que podem apodrecer e atrair insetos indesejados. Também é fundamental que o fundo da gaiola seja removível, de maneira a manter as fezes longe das aves.
Mantenha sempre água limpa e fresca à disposição do pintassilgo e faça consultas regulares com um médico veterinário para obter orientações sobre alimentação, cuidados de saúde e muito mais.
Pesquisa:
https://blog.cobasi.com.br/pintassilgo-saiba-mais-sobre-a-ave/
Curiosidades
A espécie canta praticamente todo o dia, sendo que as canções são longas, chegando a até 2 minutos sequentes. Embora as variações de notas sejam poucas, o canto é alto e impressiona diversos amantes de pássaros. Aliás, o pintassilgo conta com a capacidade de imitar outras aves.
Pesquisa: Google.
Nely da Costa Barbosa
O tempo é bem curioso, quanto mais distante, mais presente. É que o nosso pensamento corre feito uma serpente, tem horas que corre pra trás, tem horas que corre pra frente. Pra frente chamamos de sonho, pra trás de saudade pungente.
Quando a gente ainda é criança, sonhamos com quem vamos nos tornar, quando ficamos adultos, com a criança querendo voltar.
Vai entender esse tempo, que vive fora, que vive dentro, que às vezes empurramos pra frente, às vezes queremos parar.
Ter tempo pra ser feliz, ter tempo pra namorar, pra conhecer outro país e pra poder estudar. Esse é o tempo feliz e que nos faz recordar momentos inesquecíveis, de alguém ou de algum lugar. Mas quando a gente se encontra num momento de tristeza, com gente difícil de lado, cheia de indelicadeza, a gente espera que o tempo corra pra longe da gente, e nunca mais quer lembrar daquela dor novamente.
Que o nosso tempo seja amigo, que traga boas risadas, das lembranças da infância, da primeira namorada, dos amigos da escola, das noites enluaradas, das conversas na esquina, sentados pela calçada, sonhando com o futuro sem se preocupar com nada, seguindo a vida tranquilo, nas noites enluaradas.
(Baltazar Filho e Elisabete Leite)
Uma semente brotou
De uma linda videira
Do pé da ribanceira
Eu estava a contemplar.
Parecia ser uma árvore sementeira
De galhos fortes sempre a balançar
As folhas verdejantes caíam inteiras
Tal qual borboletas a nos encantar...
Tamanha era sua estatura
Que a mim remetia uma figura
Semelhante a uma Oliveira
Do gênero de uma Jequitibá.
Seu tronco grosso de genuína madeira
A árvore era de grandiosidade secular
Com aparência de uma bela cerejeira
Ficava a todo momento a me acenar...
Frondosa e abraçada a Natureza
Cresceu até o alto do céu a segurar
Era árvore de soberana grandeza
As raízes sugavam a água do mar.
A paisagem era de tamanha beleza
Tal qual uma rosa em seu desabrochar
Os discípulos de tal nobre singeleza
Eram os frutos da árvore a frutificar.
De lá contemplei meu não fracasso
Pois trabalhoso foi o meu desmonte
De galgar tal morro no compasso
Mas para fracassar tem que subir
Sentir no trajeto a dura lida
Pedra não rola sem se conduzir
Ao píncaro da glória sofrida
Mas quando enfim a altura atingir,
Vê-se que nada jamais é novo
Porque tudo tende a se repetir
Atinjo o cume pra poder cair
Assim na rotina eu me revolvo
Porquanto meu mundo torna a ruir
Rioquepassa
Ao buscar teu corpo adormecido
Na manhã em que sóis não aparecer
Ainda que queira não é atendido
Posto que em pele amanheces casta
Teu corpo em pele negas compartir
Em mim uma sede que não se farta
Tendes tu na manhã a ela repelir
Ardemos nessa busca sôfrega
Maro caos que tanto nos condena
Ao exílio de nós que nos carrega
Para longe e tal mal nos apena
Pois na alva, jamais, a luz entrega
Ao amado ver esse corpo em cena
Rioquepassa
Caminhando entre os espinhos das rosas que ela mesma plantou, e mesmo ferida, sorrí para os predadores que sempre estão à espreita de novas presas. Mas não se intimida e segue sem medo. Ali ganha mil beijos de amor, e os tapas em seu rosto causam-lhe as cicatrizes que, por muitos anos evitou guardar. E foi "juntando as pedras", uma a uma, como experiências de vida, para salvaguardar as dores dos frutos que deixou na terra. Graças a essa iniciativa, a essa força que toda mulher tem, aqueles beijos de amor lhe serviram de lição que, tanto trazem felicidade quanto a solidão da alma. Abstém-se agora de outras ilusões e aqueles espinhos não lhe ferem mais. Leva nas mãos apenas as pétalas de rosas e no coração o seu perfume, para lembrar daquele amor que fora seu, apenas seu, de mais ninguém. Esta mulher... a quem pertence agora? Pertence a Deus e ao tempo, menos às ilusões do mundo!
Socorro Almeida
Recife, 15/09/2022

Nota. Este conto foi publicado na Edição Nº 353, em 24 de agosto de 2019, no Blog Maçayó.